Sento-me em frente ao computador a ouvir uma playlist que tenho, criada em 2016, intitulada “Ennio”. Nela, estão títulos como Ecstasy of Gold, Mucchio selvaggio, Per un pugno di dollari, Man with a Harmonica, L’Inferno Bianco, Jill’s America, The Untouchables, entre muitas outras. A playlist é pequena em comparação aos 520 trabalhos que Ennio Morricone tem em seu nome, e serve apenas para guardar mais perto os temas que mais estimo.
Entretanto começou a tocar a Il Triello, do final de “The Good, The Bad and The Ugly”. Arrepios percorrem-me a espinha. A intensidade escala. O trompete brada aos céus. Quando a música acaba, decido ir ver a cena completa no YouTube. Atinge-me, de novo, que esta cena não teria nem metade do impacto que tem se não tivesse música. Não descurando o génio de Leone, que por si sabe criar tensão, mas meu Deus, a música. Os últimos 50 segundos chegam. A música atinge o pico. O ritmo cresce. As madeiras sobem, acompanhando o trompete. Por fim, um tiro.
A nostalgia cresce em mim. Acabo por rever o duelo final de “Once Upon a Time in the West”, e a primeira vez que ouvimos o tema que o relógio canta em “For a Few Dollars More”. Revejo os intocáveis, a descer a rua de caçadeira empunhada, e Toto e Alfredo a conviver perto do projetor do Cinema Paradiso.
Caio em mim, e apercebo-me de que estou emocionado. Penso que estou a ser ridículo, mas anulo isso imediatamente depois. Morricone merece que nos emocionemos por ele, tal como nos emocionamos com os momentos que nos proporcionou.
Ennio Morricone deixa-nos um legado enorme e inestimável, com o qual muitos de nós cresceu a ouvir. As memórias ficam, tal como as lágrimas, os sorrisos e os peitos cheios.
Adeus, Ennio. Descansa em paz. (1928-2020)