À primeira para muitos “Elite” pode parecer a típica série melodramática para adolescentes, ou até uma cópia de uma telenovela juvenil como em Espanha as há aos montes. Porém, a série acaba por brilhar não só por tirar o máximo proveito dos seus clichés, mas também por lhes dar um certo tom mais provocante na narrativa. Drama e mistério são os dois principais ingredientes que tornam “Elite” numa história interessante de ser ver.
Nota: Esta é uma crítica sem spoilers
“Elite” centra-se no dia a dia de uma escola de elite, Las Encinas. Três estudantes de classe baixa (Samuel, Nadia e Christian) recebem uma bolsa para estudar na prestigiada academia, o que dá origem a um choque de classes. No entanto, quando uma série de conflitos culminam num assassinato misterioso, o colégio vê-se a braços com mais do que a resolução do mistério.
À primeira, pela descrição, poderá parecer que estou a descrever uma típica telenovela. Porém quando se começa a ver, “Elite” acaba por se tornar envolvente por ir muito direta aos assuntos no que toca aos dramas vividos pelos jovens na série. A história pessoal de cada uma destas personagens é explorada de forma a torná-los distintos. Chega a um ponto que quase que nos esquecemos que está em causa um homicídio ocorrido na escola e que qualquer uma das personagens a que estamos a ser apresentadas pode ser culpada. Na temporada 2, a qualidade nesse aspeto manteve-se, aprofundando muitas das histórias pessoais de cada um dos jovens.

© Manuel Fernandez-Valdes/Netflix
Na temporada 1 está em causa um assassinato, na 2 um desaparecimento. A narrativa joga com presente e passado levando o seu tempo a construir ou desenvolver o caráter de cada personagem. Além dos conflitos que unem ou separam os jovens, há também a questão da sexualidade: um tema que é explorado a fundo, envolvendo questões como disparidades culturais/religiosas, drogas, DSTs, homossexualidade, poliamor e inclusive alguns temas mais delicados que prefiro não revelar aqui.
Drama e mistério estão bem equilibrados na história, evitando que “Elite” se torne numa série ou excessivamente melodramática à moda de “13 Reasons Why”, ou excessivamente negra. Claro, tem clichés que muitos de nós já cheiram a milhas que vão acontecer (bem como cenas e diálogos que ou fazem rir ou revirar os olhos), mas graças ao tom provocante da narrativa, bem como aos carácteres diversos de cada um deste jovens, esta série torna-se viciante de ver e muito tentadora para uma sessão de binge watch.

© Manuel Fernandez-Valdes
É um bom exemplo do porquê de várias séries espanholas se estarem a tornar em fenómenos internacionais, como bem vemos com “La Casa de Papel” e “Vis a Vis”. Por falar na primeira, há atores dessa série que aparecem aqui, nomeadamente, Miguel Herrán (como o galã Christian), Jaime Lorente (como o compulsivo Nano) e María Pedraza (como Marina). Os três interpretam personagens totalmente diferentes nesta série, especialmente Pedraza que mostrou muito mais do seu talento de representação aqui. Infelizmente na segunda temporada a presença destas personagens mal se nota (provavelmente devido a conflitos de horário com “La Casa de Papel”).
Resumindo-se como uma mistura do melhor de “How to Get Away With Murder”, e “Gossip Girl”, “Elite” tem o seu próprio brilho pela crueza com que aborda os temas e ao mesmo tempo pelo tom leve e divertido que sabe adotar em vários momentos. É um bom exemplo do porquê das séries oriundas de Espanha estarem a conquistar várias audiências a nível internacional, bem como uma abordagem mais crua aos típicos dramas que ocorrem nas séries para mais jovens. Tanto os mais novos como os mais velhos certamente encontram um pretexto para se entreterem ao longo de duas temporadas.
Nesta terceira temporada, que estreia já dia 13 de março na Netflix, temos novas personagens, uma nova história e provavelmente, mais reviravoltas, mas vendo o trailer, já ficam com água na boca!
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