‘I’m not racist. Every Martin Luther King day, I order a dark roast’. A imprecisão política deste aparte fornece uma visão ampla do teor geral do trabalho ousado que é “Dragged Across Concrete”, o novo filme de S. Craig Zahler.
A história de “Dragged Across Concrete” é ambientada em Bulwark, uma cidade fictícia. Brett Ridgeman (Mel Gibson) e Tony Lurasetti (Vince Vaughn), dois polícias, são suspensos devido ao facto dos seus métodos um tanto ou quanto violentos se tornarem públicos.
Por conseguinte, na necessidade desenfreada de arranjar dinheiro para pagar as contas, acabam por idealizar um esquema em que trabalham com criminosos que conheceram ao longo dos anos.
A dada altura, tomam conhecimento que um grupo de homens liderado por Lorentz Vogelmann, um criminoso Europeu, planeia assaltar um banco. Desta feita, o objetivo é juntar uns quantos trocos até ao final da suspensão, todavia, a situação complica-se.
Nesta que é a sua terceira longa-metragem, S. Craig Zahler ressalva a aposta pessoal na conceção de arcos narrativos completos para os seus personagens, o que deixa em aberto poucas questões por responder.
Efetivamente, qualquer pergunta sobre a vida destes personagens é respondida de duas formas: uma incide no facto do realizador estar demasiado empenhado em descrever a vida pessoal e profissional dos personagens, enquanto que a outra está relacionada com a escrita inteligente dos diálogos que preenche as lacunas da história.
Zahler prova mais uma vez que é um escritor muito habilidoso, com um estilo bastante alternativo, mas que não se confunde com uma cópia barata de Quentin Tarantino ou Elmore Leonard. Em contrapartida, é bastante explícito ao expor as suas opiniões negativas em torno de questões sobre o liberalismo e o fator da “masculinidade”.
Fica denotado a paixão que o cineasta nutre pelos diálogos entre as personagens, o que enfraquece a tensão de alguns momentos cruciais à história. Em última análise, tudo isto acaba por servir um propósito, seja no estudo do personagem ou no comentário social, por isso, na maioria das vezes, acaba por ser envolvente.
As performances de Gibson e Vaughn são vitais para o ritmo do filme. É um pouco desconfortável ver Gibson num papel que requer insinuações de intolerância e racismo, mas que acabam por ser apropriadas para ele e para outros personagens do filme.
As dificuldades que Ridgeman e Lurasetti sentem em relação à falta de dinheiro devido à suspensão no emprego, bem como as tentativas desesperadas de um rapaz em arranjar dinheiro para a família depois de sair da prisão, oferecem perspectivas diferentes sobre os desempregados e subalternos do mundo moderno.
É uma dinâmica interessante, e as visões preconceituosas de vários personagens (principalmente de Gibson e, até certo ponto, da sua esposa interpretada por Laurie Holden) causam desconforto.
No que toca às cenas de ação, são apresentadas num ritmo baixo e de uma certa maneira metódica. Não há cortes rápidos, sendo que os interlúdios frequentes de diálogo pontuam esses momentos. A maior preocupação do filme é permitir que o perigo se infiltre aos poucos, em vez de obter o ataque de coração.
“Dragged Across Concrete” tem uma ideologia muito particular apesar do argumento apresentar alguns exageros. No entanto, o ritmo confiante e as observações detalhadas contribuem para uma narrativa completamente absorvente.