Home FilmesCinema “Downton Abbey”: O reencontro com a fórmula contemporânea

“Downton Abbey”: O reencontro com a fórmula contemporânea

by João Pedro

“Downton Abbey” expõe as intrigas de um sistema de classes em extinção, ao narrar a vida da abastada família Crawley e dos seus criados. Ao longo de mais de cinquenta episódios, a série contou com a participação de nomes como Hugh Bonneville, Michelle Dockery, Jessica Brown Findlay ou Maggie Smith. Agora, a história foi adaptada ao cinema.

Em 2015, quando “Downton Abbey” se despediu dos fãs no pequeno ecrã, começou desde logo a ser abordada a possibilidade do enredo da série sofrer uma adaptação para o cinema. Efetivamente, embora tenha demorado um pouco mais do que se poderia supor, os melodramas aristocráticos da família Crawley voltam agora a entrar em rota de colisão com as papilas gustativas dos fãs que acompanharam as seis temporadas da série.

Ambientado em 1927, este passeio cinematográfico leva o público até às portas de Downton Abbey, onde a família Crawley recebe, com êxtase, a notícia de uma visita real. Com a visita de George V e da rainha Mary, a família nutre o objetivo de efetuar os preparativos de forma mais coesa possível, com o intuito de que os reis apreciem a estadia sob um requinte de excelência.

De facto, esta longa-metragem acaba por simbolizar a visita nostálgica que qualquer fã de “Downton Abbey” poderia almejar. Todavia, não há como negar que nem a história nem a execução necessitavam de ser exibidas no grande ecrã.

Fotografia: Divulgação

Não obstante ao facto de ser um grande fã da série, posso afirmar que, na minha modesta opinião, o resultado final desta visita real é mais facilmente enquadrado para ser transmitido num episódio especial de Natal (que costumava ser exibido no final de cada temporada), do que num filme.

À exceção de um sentimento cinematográfico, mas inconsequente, de uma cena no início do filme, não há absolutamente nada em “Downton Abbey” que sugira que a história justifique o tratamento de um filme.

Nota-se que há o esforço de Michael Engler (realizador) e Julian Fellowes (argumentista e criador da série) em garantir que os fãs reencontrem personagens queridos, tal como alguns detalhes sublimes que não escapam aos mais perspicazes.

É inevitável. A maioria dos fãs vai acabar por tecer o largo sorriso prometido ao reencontrar toda a dinâmica em torno daquelas intrigas muito britânicas. Desde o amor descontrolado entre classes até aos segredos de família e comédias confortáveis, o enredo chega a bom porto, visto que é guiado por um terreno fértil.

Em contrapartida, acaba por não existir um fator extra que faça com tudo isto tenha de ser retratado no grande ecrã. De fato, sem as nuances e o tempo de uma série completa, muitas das tentativas de encadeamento das histórias acabam por cair por terra.

Para quem é apologista de que as últimas temporadas de “Downton Abbey” tiveram uma queda acentuada de qualidade, posso afirmar que esta versão do filme parece muito mais com a sexta temporada do que com a primeira.

A ocasião adicional da visita real entrega um ponto focal à história, mas acaba sempre por parecer que existe um luta contra as tangentes menores e mais íntimas que se relacionam com as personagens que conhecemos. Em última análise, pode parecer agradável e confortável.

Tal como sucedeu com boa parte da vida útil da série, são as performances de alguns dos principais atores que despertam a maior alegria em “Downton Abbey”. Por conseguinte, será por demais evidente denotar a excelência de Maggie Smith no seu papel de Violet Crawley.

Fotografia: NOS Audiovisuais/Divulgação

Smith sempre foi o pulmão fulcral da série, e a equipa criativa está mais do que consciente desse facto. O filme parece mais ‘Downton’ sempre que ela está presente e, na verdade, é uma pena que Violet, como personagem, não tenha mais espaço para integrar algumas das narrativas mais aleatórias.

Michelle Dockery (Mary), Hugh Bonneville (Robert), Laura Carmichael (Edith) e Allen Leech (Branson) regressam sem esforço, e as personagens acabam por lhes assentar, claramente, que nem uma luva.

Tal como sucede no final da série, o filme parece subverter Elizabeth McGovern no papel de Cora. Ela sempre foi uma das minhas personagens favoritas, e não é exagero afirmar que tem menos influência no filme do que muitos dos novos personagens, o que é uma pena.

Phyllis Logan, Joanne Froggatt e Kevin Doyle são dignos de destaque ao retratar Mrs. Carson, Anna e Molesley, respectivamente. No que parece ser uma abordagem bastante contemporânea, o filme gasta uma certa margem considerável de tempo na abordagem da sexualidade de Thomas ‘(Robert James-Collier).

James-Collier sempre foi exímio a retratar Thomas, sendo que não existe qualquer tipo de margem de erro neste filme, porém, a trama prolongada em torno da personagem acaba por ser um dos maiores exemplos da falta de ritmo e da tomada de decisões no sentido narrativo.

Em suma, não guardo para mim a dúvida de que a maioria dos fãs de “Downton Abbey” vai apreciar o resultado final, e tem razões para isso. Nas duas horas de filme, existe o reencontro com a fórmula que cativou um número sem fim de espectadores. Por outro lado, no entanto, não existe um fator que glorifique o projeto no sentido cinematográfico, e que o diferencie da sua contraparte na televisão.

Assim, para aqueles que nunca viram a série, mas que se pretendem apaixonar pelos encantos do mundo de Fellowes, este filme pode parecer uma ode à neblina da monarquia, dos privilégios e das vozes agradáveis.

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