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Downton Abbey: A New Era – Crítica Filme

O riso e as lágrimas da aristocracia inglesa num filme metalinguístico

by João Pedro

Três anos depois, Downton Abbey regressa de forma imponente, ambígua nos silêncios dominantes dos seus corredores e protegida por muralhas que guardam segredos e tradições. Nesta ocasião, Simon Curtis explora as vicissitudes da série com uma sequela cinematográfica bipartida: por um lado, a propriedade torna-se cenário de um filme sonoro, ao passo que uma herança repentina ameaça desestabilizar o equilíbrio da família e da matriarca. Com Maggie Smith, Hugh Dancy, Michelle Dockery, Laura Haddock, Nathalie Baye, Hugh Bonneville, Matthew Goode e Elizabeth McGovern, “Downton Abbey A New Era” chega às salas de cinema em Portugal no dia 12 de Maio de 2022. 

Não são muitas as franquias que, do meio televisivo, passaram para o cinematográfico (ou vice-versa), e que, sobretudo, o tenham feito com eficácia. O que viu Downton Abbey passar para o grande ecrã após o término da série na sexta temporada foi, obviamente, uma operação bem-sucedida. A família Crawley regressa, por conseguinte, numa sequela que supera em muito a anterior. Se, em 2019, a adaptação até serviu para apresentar este universo aos mais novatos, o novo filme adequa-se por completo aos aficionados da série britânica.

Em “Downton Abbey A New Era”, os Crawley separam-se. A notícia de que Lady Violet herdou uma vila na costa mediterrânea da França, causa aparado na propriedade, e Lord Grantham decide partir para o local exótico para verificar pessoalmente as questões burocráticas e logísticas deste legado inesperado. A acompanhá-lo, surgem Lady Cora, Lady Edith (e o marido), Tom Branson – juntamente com a nova esposa, Lucy Smith, que conhecemos no filme de 2019, e parte da equipa que trabalha para a família (Carson, Bates e Baxter). Resta, em Downton, Lady Mary, que gere o facto de uma produtora ter escolhido a propriedade como local para as filmagens de uma longa-metragem sonora.

Credit: Ben Blackall / © 2021 Focus Features, LLC

A primeira regra que move os fios do argumento de Downton Abbey é a passagem do tempo. Velhos e novos protagonistas enfrentam as novidades de uma nova era, e é o próprio cinema que se torna metáfora das transformações que os conduzem para o futuro. Desde a transição do mudo para o sonoro, das estrelas da foto-novela para os atores reais, passando pelos cenário reconstruidos para os realistas, Julian Fellowes (criador da série) explora a evolução tecnológica com um toque metatextual, sem no entanto esquecer o processo de desenvolvimento dos seus personagens e do próprio caminho narrativo.

No estilo completo de Downton Abbey, não faltam reviravoltas e escândalos, mas desta vez as ideias mais dramáticas da história são equilibradas com a comédia agradável, diálogos brilhantes, e uma escrita de ritmo substancialmente prazeroso. Se, no passado, muitas vezes e de boa vontade, o humor permeou a história sem nunca assumir o papel principal, desta vez o desenrolar da trama repousa principalmente na leveza.

Até porque, afinal de contas, a estrutura deste filme, tal como a do primeiro, funciona como um episódio especial de Natal que a série apresentava no fim de cada temporada. É uma oportunidade para Fellowes e os seus associados continuarem e, em algumas ocasiões concluírem, os arcos narrativos de um personagem ou outra. A viragem narrativa não altera o tom da franquia, mas, pelo contrário, fortalece e atualiza a fórmula. “A New Era” é, em suma, um capítulo de grandes mudanças para Downton, um filme que não esquece o ADN histórico da produção, mas que, de certa forma, acaba por evocar o mesmo sentimento que “No Time To Die” representou para 007.

Credit: Ben Blackall / © 2022 Focus Features LLC

Todas as histórias chegam ao momento do ponto final e, de facto, os fãs de Downton Abbey podem sentir-se felizes por terem beneficiado por tanto tempo e com tanta riqueza de todos estes personagens. É o fim ? Não estou certo disso. Porém, se em 2019 o trabalho de Fellowes tinha sido direcionado para uma história que era autossuficiente, nesta segunda aventura cinematográfica tudo depende de um fundo que não permite ao espetador desfrutar plenamente do “filme”, mas que requer uma preparação prévia. Desta feita, o valor de “Downton Abbey A New Era” decai como obra autónoma, em favor de uma operação dedicada exclusivamente para os fãs, o que não é errado em sentido absoluto, mas que corrói ligeiramente os fundamentos de excelência desta catedral da seriedade televisiva.

Entre reviravoltas, revelações e despedidas dolorosas, o novo filme de Downton Abbey revitaliza e entrega o charme de outrora à saga. Um capítulo fundamental, muito mais do que o antecessor, que os fãs de primeira linha não vão querer e não devem perder.

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