Em 2013 surgiu nas prateleiras a sequela de “The Shining”. Agora, esta mesma história fantástica chega ao grande ecrã para nos transportar novamente para este mundo com a sua sequela, “Doutor Sono” (Doctor Sleep).
Temos que começar esta crítica por afirmar que Mike Flanagan é um mestre do terror contemporâneo. Desde “Oculus” (2013) até “Hush” (2016), passando por “Gerald´s Game” (2017) até à série da Netflix “The Haunting of Hill House” (2018) – Flanagan realiza óptimos filmes de terror.
Sendo uma sequela de “The Shining”, Flanagan tinha certamente imensa pressão para conseguir agradar aos fãs deste universo, tocando num clássico deste género – um filme tão pouco convencional que o lança para uma outra estratosfera cinematográfica. Porém, Flanagan não desilude.
“Doctor Sleep” retorna à história de Danny Torrance, décadas após os sucedidos no Overlook Hotel. Danny (Ewan McGregor) tenta fugir aos fantasmas do seu passado, refugiando-se no álcool. Ao entrar em contacto com uma Abra (Kyliegh Curran), uma menina com os mesmos poderes que ele, vê-se no papel de mentor para esta criança.
Porém, Rosie (Rebecca Ferguson) e o seu gang procuram e raptam crianças com estes poderes para as matar e alimentam-se delas. Cabe a Danny e a Abra conseguir parar este massacre.
Este “Doctor Sleep” é mais fiel ao livro de King do que ao filme de Kubrick. Porém, Flanagan tenta gerir as expectativas de ambos com uma mestria difícil para muitos.
A maior comparação é logo evidente com o maior cuidado e interesse que Flanagan tem no desenvolvimento das personagens. Tanto os heróis como os vilões, todos têm imenso tempo de antena e, como espectadores, percebemos as motivações de ambas as partes na perfeição.
Tudo isto ajuda com excelentes performances, seja de McGregor a Fergunson. Contudo, a melhor representação do filme vem mesmo da pequena Curran, com um grande carisma e evidente felicidade de participar no filme. Será, certamente, um deleite ver a ascensão desta nova estrela.
Como já estamos habituados com Flanagan, “Doctor Sleep” está super bem realizado e editado. Com um ritmo ponderado e misterioso, a envolver o espectador lentamente neste mundo, é viciante ver o desenrolar dos acontecimentos a um ritmo pouco comum para os filmes de terror dos dias de hoje.
Aliás, convém salientar que “Doctor Sleep” não é um filme de terror convencional. Quem vá procurar jumpscares a cada minuto, com imagens horrendas e um enredo aborrecido, desengane-se.
“Doctor Sleep” é mais um filme de fantasia, com toques de terror espalhados nos seus temas e conceitos. Não é grotesco (em momentos até é bastante belo de se ver), mas apresenta ideias realisticamente grotescas para a audiência reflectir.
“Doctor Sleep” é excelente a ser-se ele mesmo. Onde o filme encontra algumas dificuldades é ao ser uma sequela de “The Shining”.
Esta sequela tem de fazer a tarefa herculeana de fazer a ligação directa a um filme que saiu há quase 40 anos. Muitos dos actores do “The Shining” estão bem diferentes do que seria de esperar para este filme – e outros até já se reformaram destas andanças.
Para fazer esta ligação, “Doctor Sleep” tem de fazer algumas recriações, servindo de elo de ligação entre os dois filmes. Algumas dessas recriações são incríveis e excelentes homenagens. Outras são desconcertantes e, sinceramente, poderiam ter sido tratadas de uma forma mais cautelosa.
No fim de tudo, “Doctor Sleep” é uma óptima sequela para um dos filmes mais celebrados de sempre. É um intermédio entre o convencional e o incomum que era “The Shining”, sendo lentamente cativante e interessante em toda a sua extensão. É uma óptima visita a este mundo e uma que não terei dificuldades nenhumas em regressar.
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