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“Dark”: O Homem pode fazer o que quer, mas não pode querer o que quer

by João Pedro

A história de “Dark” começa em 2019, numa pequena cidade (fictícia) alemã chamada Winden. A comunidade é abalada pelo desaparecimento repentino de duas crianças, que desencadeia um conto sobrenatural, carregado, lento, cheio de sustos e camadas de profundidade entre os vários personagens, enquanto tentam descobrir o que aconteceu, e quando aconteceu.

Se eu revelasse muito mais sobre o enredo, estaria a entrar em águas impregnadas de spoilers. E eu não pretendo rechear esta review de dados fundamentais sobre a trama. Porém, basta dizer que Dark oferece o pedaço de uma história, cheia de reviravoltas e surpresas escondidas em todos os episódios. À medida que alcança o ponto intermédio, o enredo torna-se muito mais complicado e difícil de seguir, sem aviso prévio, já que salta entre períodos de tempo.

É aqui que “Dark” é um pouco artístico demais para o seu próprio bem, visto que mostra diferentes personagens em momentos diferentes da sua vida. Ver o mesmo personagem em criança, adulto e idoso, é certamente uma perspetiva intrigante, não obstante, revelar isso no espaço de uma cena de 20 minutos, requer alguma leveza de espírito.

Apesar de todas essas trocas e baldrocas, “Dark” nunca é frustrante. É auxiliada a esse respeito, por um misto de personagens interessantes, cada um deles complexo e cheio de segredos. Embora o enredo salte para diferentes personagens e unidades familiares nesta cidade, alguns dos principais personagens merecem uma menção especial.

Ulrich (Oliver Masucci), a investigadora Charlotte (Karoline Eichhorn), Jonas (Louis Hofmann) e Mikkel (Daan Lennard Liebrenz) são, a meu ver, as personagens que foram melhor trabalhadas no seu todo.

Fotografia: © Julia Terjung/Netflix

Visto que é uma série original alemã, vale mencionar que a melhor maneira de ver a obra é, obviamente, em alemão. Vi alguns episódios (pela segunda vez) em inglês e, embora não seja terrível de forma inerente, também não é muito bom, e dissipa parte da tensão retratada pelos personagens.

Dark é o nome perfeito para esta série, ao ilustrar o tom e a estética de um thriller que brinca com o tempo. Uma palete de cores saturada, que absorve o brilho de todas as cenas, e que preenche todos os episódios com uma noção de medo e ansiedade.

A falta distinta de cenas pesadas em CGI, ajuda a eficácia criada pelos atores, e pelo trabalho de fotografia. Todavia, por vezes, o enredo é um pouco difícil de seguir e, juntamente com o uso excessivo de certos segmentos musicais para invocar o pavor, “Dark” não está isento de problemas.

A primeira temporada tem dez episódios, e, à medida que a história avança, é difícil não sentir curiosidade por descobrir o que vem a seguir. No entanto, para mim, a melhor temporada de “Dark” (no conjunto das três), é a segunda.

A meu ver, a segunda temporada de “Dark” é uma aula de mestre sobre como escrever acerca de viagens no tempo. A história adiciona um nível mais arrojado de complexidade, e liberta-se das amarras de alguns diálogos expositivos mais carregados da primeira temporada.

Em três ou quatro episódios, começamos a perceber que existem cinco períodos de ação, o que pode conduzir o público a uma falsa sensação de segurança.

Tenho para mim a convicção, de que a quarta temporada de “12 Monkeys” continua a ser o conjunto de episódios em que uma série consegue espelhar o conceito de “viagem no tempo” da melhor forma, contudo, esta segunda temporada de “Dark” impressionou-me completamente.

É um pouco lenta, mas quando o fusível acende, a explosão que se segue oferece uma das maiores conquistas recentes da televisão alemã.

No futuro, talvez opte por escrever algo mais intrincado em torno enredo de “Dark”. Seja como, for, nesta review, optei por tecer o menor número de spoilers que me foi possível.

Fotografia: Stefan Erhard/Netflix

Portanto, no que toca à terceira temporada, dedico as seguintes palavras:

Todos os personagens que conhecemos ao longo das duas temporadas anteriores regressam, se bem que existe uma nova cara, que será fulcral para resolver o emaranhado de histórias.

No final da terceira temporada, quando o drama e a tensão atingem o ápice, “Dark” começa a responder a algumas das maiores perguntas que pairam sobre a série. E, efetivamente, as respostas que recebemos valem a pena.

Há algumas reviravoltas absolutamente deslumbrantes (como seria de esperar), e tudo isso faz com que as coisas cheguem a um final bastante satisfatório.

Sem entrar em muitos detalhes, “Dark” tem uma maneira maravilhosa de lidar com temas pesados ​​e com a simbologia religiosa.

O resultado é algo que parece instantaneamente familiar e totalmente original, visto que série completou três anos com uma emoção ininterrupta de montanha-russa. O mundo alternativo oferece algumas opções criativas para muitos dos personagens que conhecemos ao longo da série, e Martha, em particular, desempenha um papel muito maior nesta última parte.

Por conseguinte, a terceira temporada, ancorada pelas maravilhas antecedentes, consegue entregar um dos dramas mais abrangentes, complicados e cativantes dos últimos anos.

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