“Da 5 Bloods” é o tipo de confusão que apenas um génio demasiado emocional, com um turbilhão de ideas dentro dele, conseguiria fazer.
E é o que mais adoro no filme. É óbvio que o filme fala sobre a forma como o estado militariza raiva e trauma, e a cruel ironia de dois grupos oprimidos forçados a lutar um contra o outro sem qualquer benefício para eles, mas o que perdurou mais comigo foi o quão difícil é seguir em frente quando tens tantas minas do passado no teu caminho. É impossível. Esta é uma das muitas consequências da violência estatal (ou terrorismo estatal, como lhe quiserem chamar).
Independentemente dos defeitos de Da 5 Bloods (como as sequências de ação previsíveis que só lá estão para agitar o andamento do filme), é uma perspetiva essencial do desastre que a guerra do Vietname foi e que não a trata como um erro único do governo norte-americano, mas sim como uma peça calculista da máquina que explorou e mentalmente destruiu centenas de adolescentes de várias raças, e que consequentemente arruinou segundas gerações americanas e vietnamitas com relações tóxicas entre pais e filhos por raiva reprimida ou pela incapacidade de lidar com tudo o que se passou.
Mais uma guerra que nunca realmente acabou. Quem seriam todas estas pessoas se estas atrocidades não tivessem sido permitidas?
Spike Lee tem muito a dizer. “Da 5 Bloods” é um misto de men-on-a-mission com um heist movie, pintado através da história dos negros e do Vietname, em que a corrupção pela ganância não surgiu aos poucos ao longo do filme, mas já estava presente, através do imperialismo que assombra os cinco homens.
Delroy Lindo tem uma das mais brutalmente tristes performances de um filme do Lee, cuja raiva incessante, contradições políticas e complexidades emocionais são diretamente um contraponto para tentar retroativamente “ganhar” este conflito através do cinema. Não há nada de fácil ou de justo na aplicação de violência ou na alocação de recursos numa guerra ditada pelos de cima, e não pelos que estão no chão a tentar sobreviver à carnificina imoral.
Resta tentar passar pelas balas que assobiam pelo ar, e contribuir para a causa.