Cyrano de Bergerac, peça de teatro que data de 1897, foi escrita por Edmund Rostand, um poeta e dramaturgo francês. Escrita originalmente em verso, a tradução inglesa frequentemente utilizada para adaptações é a de Brian Hooker, que foi concebida em 1923. Desta feita, vários anos depois, a história continua a ser abordada no grande ecrã.
Cyrano de Bergerac foi uma peça de teatro bem recebida pelo público no final do século XIX e, posteriormente, foi revisitada no grande ecrã ao longo do século XX, como em 1950 (o protagonista foi retratado por José Ferrer, que arrecadou o Óscar de Melhor Ator), em 1962, com Christopher Plummer a assumir o papel principal, ou em 1990, adaptação que viu a personagem receber a abordagem do francês Gerard Depardieu. Mais tarde, já em 2008, Cyrano regressou aos cinemas na pele de Kevin Kline deu vida a Cyrano).
Entretanto, em 2018, foi apresentada uma ópera e um musical baseados na peça. Por conseguinte, esta versão de 2021 é baseada nesse musical, sendo que Erica Schmidt trabalhou no argumento de ambas as obras. Quanto à cadeira da realização, foi ocupada por Joe Wright.
Neste filme, como seria de prever, o design de produção é de tirar o fôlego, sendo que o guarda-roupa espelha bem o universo que nos é apresentado.
Na história, Cyrano sente-se inseguro para expressar os seus sentimentos por Roxanne. Só que, nas versões anteriores, a causa desta insegurança está relacionada com o tamanho avultado do seu nariz. Porém, nesta última versão, é o status de Cyrano como anão, e não o tamanho do seu nariz, que o motiva a nunca expressar o seu amor por uma mulher.
Peter Dinklage chega a este papel de Cyrano com um currículo de respeito na indústria da representação. O seu trabalho mais conhecido está compreendido entre 2011 e 2019, onde deu vida a Tyrion Lannister em “Game of Thrones”. Em contrapartida, apesar da sua beleza e da habilidade vocal admirável, a Roxanne de Haley Bennett não é uma personagem muito simpática, pelo menos até receber uma ameaça terrível na segunda metade do filme.
A opinião de Erica Schmidt sobre “Cyrano” dispensa o tamanho invulgar do nariz da personagem principal, destacando uma condição humana mais universal da sensação de não merecer amor. Embora tenha substituído a aparência da personagem, a história mantém-se fiel à obra de Rostand. Devido à sua aparência, Cyrano decide não revelar o seu amor por Roxanne e, consequentemente, prefere ajudar a sua amada a apaixonar-se por outro homem. Por conseguinte, opta por oferecer os seus serviços de poeta e o dom das palavras a Christian, para que este consiga conquistar Roxanne através de cartas de amor.
A meu ver, se esta adaptação desprezasse a vertente musical e se baseasse mais no jogo de palavras e na sagacidade romance, apresentaria um resultado final bastante superior. Os atores cantam pelos próprios termos, o que é em parte triunfante (o talento de Bennett) e em parte medíocre (Dinkalge, que é o ponto fulcral do filme, ao exaltar excelente performance, mas que não consegue cantar).
Apesar do estilo não me agradar, o Joe Wright tem apetência para criar um musical cinematográfico em grande escala, facto evidenciado através dos figurinos elaborados e de todo o design.
O visual deste filme, juntamente com o argumento inteligente de Schmidt, fará com que os amantes de literatura e os entusiastas de teatro tenham laivos de prazer. Mas nada de mais. A performance de Dinkalge é, igualmente, de tirar o chapéu, mas não me parece notável ao ponto de perdurar na memória de muitos.