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Cursed: Uma série com potencial mas que meteu água

by The Golden Take

Cursed é daquelas séries que ninguém pediu. que o trailer entusiasmou mas que o resultado final ficou aquém do esperado. A nova adaptação da lenda do Rei Artur, mas desta vez focada numa personagem feminina, está na Netflix.

Honestamente, não sei se foi do nome mas ele adequa-se um pouco ao destino da série agora que, finalmente a acabei de ver. Tenho de confessar que foi daquelas séries que senti que não precisava muito de estar atenta porque também não ia perder grandes detalhes.

Para quem desconhece em que se baseia a história de Cursed, ela funciona um pouco como uma prequela da lenda do Rei Artur (sim, o que tira a Excalibur da pedra), sendo que desta vez temos uma protagonista feminina, a Nimue. Aos poucos descobrimos que ela é uma grande feiticeira e que tem uma missão: entregar a Espada do Poder, ou Espada dos Primeiros Reis como também lhe chamam, a Merlin, sem saber bem como nem porquê. Sim, esse Merlin mesmo.

No meio desta missão, ela tem de fugir aos Paladinos Vermelhos, representantes da Igreja, que estão a destruir as aldeias Fey (o povo de Nimue) por acharem que eles são “o demónio”.

(preparem-se para spoilers.)

Sinto que devo começar pela protagonista porque, se há personagens que conseguem ser melhor que a personagem em que a série se centra… algo não está a bater bem. Não é que ela esteja mal, não é isso. Katherine Langford dá-lhe aquele toque mais humano, mais frágil, de uma rapariga que foi rejeitada pelos seus por acharem que ela está amaldiçoada (daí o nome) e alguém que perdeu tudo e vê-se com uma enorme responsabilidade e um poder por descobrir.

CURSED (L TO R) KATHERINE LANGFORD as NIMUE in episode 104 of CURSED Cr. Netflix © 2020

Porém, o argumento jogou contra esta personagem porque quanto mais queríamos saber dela e da extensão do seu poder com e sem espada, acabávamos por ter sempre o oposto. E depois o maior plot twist da vida dela, que podia ter sido o climax, tornou-se bastante óbvio à medida que nos aproximávamos da revelação: Merlin é pai dela.

Faz sentido, é filha de um grande feiticeiro cheio de poderes… excepto que aqui Merlin não tem poderes. ELE NÃO TEM PODERES, como assim? Basicamente a função de Merlin é andar a ver qual dos reis lhe dá as benesses que ele quer e pouco mais. Que desperdício de personagem e de ator, sinceramente, por Gustaf Skarsgård saiu de Vikings, de interpretar o nosso querido Floki, para vir fazer de um feiticeiro sem poderes (pelo menos até ao último episódio). O que vale é que, mais uma vez, o problema não foi do ator mas sim do argumento.

O famoso Rei Artur, aqui é apenas Artur (Devon Terrell), um ladrão e um homem cheio de dívidas graças ao seu pai, que acaba por salvar Nimue, e depois trai-la e depois apaixonar-se por ela. A personagem dele não é má, desde logo percebemos a coragem inerente ao mesmo, mas há alturas em que ele é tão chato a falar que só apetece mesmo mandá-lo calar. Para além de que, toda a relação criada entre Nimue e Artur é só estranha, não sinto que os atores tenham assim tanta química, como de um minuto para o outro (literalmente) ela quer vingar-se de ele a ter traído e depois já está tudo bem, in love, e ele mereceu o perdão dela. Ao menos faziam isto ao longo dos episódios.

O que me alenta é que ao longo da temporada, fomos tendo algumas personagens realmente interessantes e que cujo futuro se tornou ainda mais curioso após o último episódio. As personagens são Esquilo (Billy Jenkins), que é só o miúdo mais corajoso e mais fixe, que mais tarde revela que o seu nome é Percival; o sub-vilão da história, Monge Chorador (Daniel Sharman), o assassino de alguns Fey, que também se vem a descobrir que se chama Lancelot; e Morgana/Irmã Igraine (Shalom Brune-Franklin), irmã de Artur, que acaba por se tornar na Viúva mas antes disso foi só alta badass. Ah, quase que me esquecia de Pym (Lily Newmark), que embora seja uma personagem secundária, é das mais queridas que há e a relação dela com o Doff era tão mais interessante!

Para quem conhece a lenda, saberá que Percival e Lancelot são dois dos mais fiéis soldados do Rei Artur (daí o meu entusiasmo) e Morgana é a feiticeira que ajuda o rei. Por mim teria já a segunda temporada só para desvendar os mistérios destes três.

CURSED (L to R) DANIEL SHARMAN as THE WEEPING MONK in episode 107 of CURSED Cr. COURTESY OF NETFLIX © 2020

Como vilão temos o Padre Carden (Peter Mullan), chefe dos Paladinos Vermelhos, que consegue trazer muito carisma para a personagem dele e ainda bem, senão o plot destas cruzadas ficava só aborrecido, e ele no fundo é um estratega e sabe como jogar as peças. Até certo ponto. Quanto à Irmã Iris (Emily Coates) que só queria ser um Paladino… que personagem irritante. Mesmo. E só de pensar que ela pode vir a ganhar mais destaque… Não quero nem vou falar disso!

O problema de Cursed é que não consegue manter a linha da história de Nimue do início ao fim e isso nota-se quando começam a surgir demasiadas histórias e personagens que, a maioria delas, não vem acrescentar nada à situação e muitas das cenas podiam facilmente ser cortadas (excepto a personagem Guinevere que achamos que ainda poderá vir a ser bastante importante no futuro).

Quanto aos efeitos visuais, não consigo perceber o que se passou. Estamos perante uma série da Netflix, que já é conhecida até por ter bons efeitos nas suas produções. Aqui cada cabeça cortada ou cada golpe que esguichava sangue, metia medo ao susto de quão falso estava. Como assim isto aconteceu? Céus. Para além do mais que as transições entre cenas até podiam ter a intenção de dar aquele efeito mais animado mas não acho que tenha resultado assim tão bem.

Cursed sofreu do mal de querer fazer muito (e fizeram até demasiado) em 10 episódios que ainda por cima tinham 1 hora cada. Dava perfeitamente para dividir tudo o que aconteceu em duas temporadas com menos duração por episódio e a história tornava-se menos confusa. Até porque chegámos ao final com muitas perguntas por responder.

CURSED (L TO R) KATHERINE LANGFORD as NIMUE and GUSTAF SKARSGRD as MERLIN in episode 106 of CURSED Cr. SIMON RIDGWAY/Netflix © 2020

Porém, quero ver o que é que vai acontecer numa segunda temporada, se a série chegar a ter uma, nem que seja porque seria frustrante depois daquele final não ter, mas também para perceber se de alguma forma corrigiram os erros desta primeira temporada. Lá está, a série tem potencial, e a história ser contada na perspetiva de uma personagem feminina não só tem alto significado, como pode ser bastante interessante com um argumento forte. Mas parece que todos os esforços que fizeram, caíram por terra, tornando a série entertaining mas facilmente esquecível, o que é pena.

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