Com o décimo aniversário à porta, decidimos revisitar “Inception”, a aclamada obra-prima de Christopher Nolan, para perceber se ainda se mantém firme no pedestal.
Um sonho, dentro de um sonho, dentro de um sonho. Esta é a viagem que Christopher Nolan nos promete neste “Inception”. Porém, por baixo da superfície sonhadora existe uma jornada lúcida sobre a redenção da consciência de um homem. Será que Nolan consegue conjugar as duas coisas?
O homem de que falamos é Cobb (Leonardo diCaprio), um reconhecido ladrão especializado em roubar informações a pessoas através dos seus sonhos vê-se a braços com uma tarefa quase impossível: implantar uma ideia num humano através dos sonhos. Cobb vê aqui a sua oportunidade para regressar a casa para os seus filhos e reúne a equipa necessária para realizar este último trabalho – trabalho este que se complica à medida que vão mergulhando no subconsciente do sujeito.
“Inception” já tem 10 anos de existência. E tendo sido alvo de aclamação e discussão desde o momento da sua estreia até aos dias de hoje, há pouco de novo que possa dizer sobre o filme que não tenha já sido dito por outros.
Sim, o conceito é interessante. Sim, o argumento está escrito de forma exímia. Sim, o final é um debate constante que, até agora, não existe resposta concreta. Sim, todo o filme é uma alegoria sobre a arte do cinema. Sim a isto tudo.
De forma a conseguir dar um toque original a esta crítica, irei somente discutir a minha experiência com o filme.
Estávamos em Agosto de 2010 e eu, um rapaz de 15 anos a viver na histórica Grândola – a vila mais morena de Portugal e arredores – já me considerava um pequeno connoisseur de Cinema, com ainda muito caminho por trilhar.
Numa fatídica noite calorosa decidi entrar no pequeno cinema da vila para ver este filme “esquisito” de que tanto tinha ouvido falar. Nolan ainda não era um nome que me despertava a atenção, mas isso estaria prestes a mudar.
2 horas e meia depois e o meu queixo estava no chão e o meu cérebro de 15 anos completamente descontrolado, sem Norte nem Sul, nem qualquer indícios de querer voltar ao seu estado original. “Inception” foi o meu Sgt. Pepper´s, o meu Jurassic Park, a minha Mona Lisa. Nada depois de ver este filme voltou a ser o que era. O meu olhar sobre Cinema tinha mudado para sempre.
Naquela altura, para mim, “Inception” era perfeito. Só um louco é que conseguiria encontrar defeitos naquela obra-prima e, mesmo assim, se alguém encontrasse defeitos estava errado.
10 anos depois eu próprio consigo encontrar uma ou duas coisas às quais penso que poderiam ter sido melhor executadas ou trabalhadas.
O grande espinho, na minha opinião, deste filme é a personagem de Ellen Page, a iniciante Ariadne. Mesmo tendo alguma profundidade narrativa e ser uma ajuda no final para Cobb, grande parte do tempo dado à personagem é para explicar todas as regras do mundo a ela, tornando-se a personagem audiência (ou seja, Nolan utiliza a personagem para nos explicar a nós, espectadores, o que realmente acontece no filme).
E, apesar de não considerar isto como defeito mas mais como uma embirração minha, o enredo do filme é pouco imaginativo no que toca a explorar os cenários subconscientes vindos dos sonhos. Todos nós já tivemos sonhos bastante surreais e abstractos, completamente desprovidos de sentido real. Em “Inception”, apenas 2 ou 3 momentos transportam esse sentido de irreal, não chegando a explorar muito na viagem surreal dos sonhos.
No fundo, estes são 2 defeitos minúsculos no grande esquema da coisa. “Inception” é um gigante sucesso, um autêntico marco no cinema do século XXI. Seja pelo seu conceito, execução ou impacto na cultura, depressa se tornou um filme incontornável, não apenas na carreira de Nolan mas também na história do Cinema.
Apesar do conceito fantástico e ficcional, nunca perde o sentido de realidade e o verdadeiro sentido do enredo – uma história de redenção pessoal e a busca da felicidade de Cobb junto dos seus olhos, independentemente que seja em sonhos ou na vida real.
Repleto de personagens interessantes e um elenco repleto de estrelas, entre Tom Hardy, Joseph Gordon-Levitt e Michael Caine, para além das já mencionadas. com um cunho tão próprio de Nolan, que viria tornar-se um dos realizadores mais brilhantes do nosso tempo, “Inception” é uma experiência inesquecível e que nunca cansa em repetição. Um dos melhores filmes deste século e um clássico instantâneo. E desde aquela fatídica noite de Agosto que não me canso de rever este filme.
Cabeçalho: Photo by Stephen Vaughan – © 2010 Warner Bros. Entertainment, Inc.