Cowboy Bebop: A opinião de um fã do anime

See you, space cowboy…

A vida é feita de erros.

Há quem não comece a fazer pés-de-meia para assegurar o futuro, há quem corra a chuva e até há quem se esqueça de levar o chapéu quando a previsão é de aguaceiros.

No entanto nenhum destes erros se equipara à contante tentativa dos estúdios americanos de fazer live-actions baseados nos anime japoneses.

A versão da Netflix de Cowboy Bebop é mais um dia de chuva sem chapéu.

Para os fãs do anime a possibilidade de uma versão live-action da história de Spike Speagle era aguardada com alguma expectativa. A tentativa de misturar um western com ficção científica é arriscada, mas os estúdios Space conseguiram, através desta combinação improvável, criar uma das maiores produções de culto de sempre do Japão.

Todos os conhecedores desta cronografia quiseram alimentar a sua nostalgia e colocaram-se, cegamente, à mercê de uma interpretação viciada por truques de cinemateca californiana que não soube filtrar o que de mais rico tem este universo.

A história é escrita por linhas tortas e acaba por não seguir um rumo burlesco como já visto em outras adaptações feitas no passado. Os principais alicerces do tecido histórico são mantidos, mas há mergulhos para zonas sem pé de onde dificilmente se recupera.

© Netflix

A escolha do casting é distintamente infeliz e encontrar traços fidedignos das personagens é uma olimpíada. Há uma híper banalização das personagens e um afastamento estoico das melhores virtudes que os tripulantes do Bebop possuem.
John Cho não é um bom Spike Spiegel. Arroga uma personalidade de quem viu a Velocidade furiosa, leu o guião na diagonal e quis tornar-se um sex symbol para o mercado asiático.

Todas as personagens esfregam as mãos na mediocridade e pouca profundidade garantida na animação e o único sabor doce que fica de tamanha trivialidade de representações é o ator que representa Jet Black (Mustava Shakir), o piloto da nave, que nos devolve alguma da melancolia prometida.

No fim de contas acaba por ser uma produção suficiente, a nível de cenários, fotografia e guarda-roupa, no entanto deixa sempre a impressão de que não existe um fio condutor sóbrio para que o desenvolvimento da história possa ser completamente compreendido.

A tentativa de vestir uma camada de comédia forçada a quase todas as situações é quase vergonhosa, o atropelo das fases da história é soluçante e o mais gravoso é mesmo a capacidade dos produtores pegarem na aura de film-noir mergulhado numa banda sonora de whiskey-jazz e transformá-la em algo barato, ridículo e injurioso.

Sem grandes surpresas deverá haver uma segunda temporada visto faltarem várias etapas da cronologia original. Chegou a ser enervante ver os 6 episódios – E ainda bem que só foram 6 – e perceber que a peregrinação não ia chegar no fim do sexto episódio.

Se me perguntarem se prefiro ver uma hipotética segunda temporada ou ensinar um golfinho a andar de patins em linha, não vou responder porque fui à Decathlon.

PS: Entretanto, a série foi cancelada pela Netflix.

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