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Christopher Plummer, um marco na cultura mundial

by João Pedro

Christopher Plummer tornou-se uma cara conhecida do público por ter protagonizado “The Sound of Music”, aquele que, porventura, é o musical mais popular de todos os tempos. Não obstante, ao longo da carreira, a juntar a múltiplas performances notáveis, arrecadou um Óscar, dois Tonys e dois Emmys. Faleceu esta sexta-feira, em casa, aos 91 anos.

Descendente de uma família de renome cujo status diminuiu na época em que nasceu, Christopher Plummer sempre exibiu dons naturais para causar impacto no cinema: tinha a figura de protagonista; um semblante ligeiramente indiferente que traia a confiança suprema, se não a auto-estima; uma graça discreta e a dicção requintada.

O início de carreira não foi propriamente risonho. O charme era igualado em arrogância, que veio a reconhecer mais tarde quando os seus hábitos alteraram.

Em 1971, foi substituído por Anthony Hopkins no papel principal de “Coriolanus” no National Theatre em Londres. Na altura, Plummer foi despedido devido ao comportamento rude que apresentava. Durante anos, frisou uma opinião negativa sobre um dos filmes mais conhecidos que protagonizou – o musical “The Sound of Music” de 1965, onde deu vida a Georg von Trapp ao lado de Julie Andrews. O ator tinha o hábito de descredibilizar o filme, chamando-lhe “S&M” ou “The Sound of Mucus”.

Seja como for, o currículo de Plummer, que se estendeu por sete décadas, é colossal, senão incomparável, já que abrangeu oportunidades de representação de algumas das maiores obras da literatura, passando também pelo entretenimento comercial.

Apesar das polémicas, abraçou todos os projetos com uma graça misteriosa, ou pelo menos com prazer profissional, ao exibir uma facilidade uniforme em desaparecer nas personalidades que não eram as suas – piedosas ou ameaçadoras, benignas ou maléficas, carregadas ou suaves – um deleite na história do entretenimento.

Nos palcos, interpretou Hamlet, Macbeth, Richard III e outros protagonistas de Shakespeare, sempre com elogios bem simpáticos da crítica.

E, mesmo quando Shakespeare ficou para trás, continuou a retratar personagens de grande relevo tanto em televisão como no cinema: Sherlock Holmes e Mike Wallace, John Barrymore e Leo Tolstoy, Aristóteles e F. Lee Bailey, Franklin D. Roosevelt e Alfred Stieglitz, Rudyard Kipling e Cyrano de Bergerac.

Adicionalmente, aceitou também papéis mais satíricos, como o imperador da galáxia que aparece em formato de holograma em “Starcrash”, um rip-off de “Star Wars”.

No grande ecrã, a interpretação de von Trapp (o homem de pulso firme que ficou de coração derretido pela freira que contratou como ama para os filhos), impulsionou um desfile constante de papéis distintos, num espectro formidável de vários géneros.

Participou em dramas históricos (“The Last Station”, sobre Tolstoi, e “The Day That Shook the World”” sobre o início da Primeira Guerra Mundial); aventuras (como a adaptação de “The Man Who Would Be King”, com Sean Connery e Michael Caine) comédias românticas (“Must Love Dogs”, com John Cusack e Diane Lane); abordagens mais políticas (“Syriana”); ficção científica (o general Klingon, em “Star Trek VI”); e até a sátira ao crime (“The Return of the Pink Panther,”, em que, ao lado do Inspetor Clouseau de Peter Sellers, retratou um ladrão de joias reformado que, originalmente, foi interpretado por David Niven).

Arrecadou um Oscar tardio em 2012, pelo papel de Hal, um homem que se torna gay após um casamento de décadas e a morte da esposa, em “Beginners”. O filme espelha uma história agridoce entre pai e filho, onde Plummer contracenou com Ewan McGregor.

Após o seu septuagésimo quinto aniversário, ainda teve mais de uma dúzia papéis, entre eles, o thriller “The Girl With the Dragon Tattoo” (2011); “Barrymore” (2011), uma versão cinematográfica do espetáculo pelo qual ganhou o segundo Tony, “Knives Out” (2019); e “The Last Full Measure” (2019), protagonizado por William Hurt.

Em 2017, deu vida a J. Paul Getty, um multimilionário que se recusa a pagar o resgate do neto sequestrado, em “All the Money in the World”, de Ridley Scott. O trabalho em questão, rendeu-lhe uma nomeação ao Óscar.

E ficam a faltar muitos outros trabalhos por mencionar. Ao longo de mais de setenta anos de carreira, Christopher Plummer arrancou aplausos dos amantes de cinema, televisão e teatro. O corpo da obra do ator, que vai de Shakespeare à ficção científica, e que forma uma ponte quase que infinita entre os dois, é um testemunho de versatilidade e talento.

Christopher Plummer é um marco na cultura mundial. Palcos e ecrãs tiveram a honra de o ter como anfitrião durante anos. Existe uma imensidão colossal de vidas que, de alguma forma, foram tocadas de forma tangencial pela obra do ator. E, quando assim é, as luzes nunca se apagam. O público vai sempre recordar um olhar, uma expressão, um sentimento. Os aplausos continuarão a ressoar nas nossas salas. É a magia do que é ser um mestre.

Até sempre, Christopher Plummer.

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