Olá amigalhaços! Há muito tempo que não vos escrevia sobre um filme fantástico que acabei de ver! Para aqueles que aguardavam pacientemente por uma crítica escrita de forma sublime, ridiculamente cativante e que aguça a ânsia de ir ver um filme que é absolutamente imperdível… lamento desapontar-vos, malta. O Menu não é o filme mais saboroso que há e eu também não escrevo assim tão bem.
Bom, entrando assim desta maneira não vos culparia se perdessem logo o apetite (estão a gostar das metáforas culinárias? ) para ver este novo filme do Mark Mylod, o realizador da maior parte dos episódios da incrível série Succession. A verdade é que o Menu não é um filme completamente desprovido de valor mas, na minha opinião, tentou conjugar vários ingredientes (ok, vou parar) e não o conseguiu fazer da forma mais elegante.
O filme abre com uma cena de um jovem casal que está prestes a entrar num barco rumo a uma ilha remota que alberga um dos mais prestigiosos restaurantes do mundo. As listas de espera são longas e os convidados não ultrapassam uma dúzia por noite. Ao jantar, espera-os uma refeição como nenhuma outra: pensada ao pormenor desde a criação dos ingredientes até à maneira como serão consumidos e que será, acima de tudo, uma experiência transformadora.
Sem me adensar muito mais em termos de enredo (para não cair no território do spoiler), já devem conseguir adivinhar o paralelismo que há entre este restaurante da história e o famoso restaurante Noma do mundo real. Esta comparação é importante, visto que uma das principais facetas do filme é a construção de uma sátira ao mundo do fine dining e, por extensão, à comunidade artística que rodeia as diversas esferas da Arte e que olha do topo do pedestal do seu intelectualismo, de nariz empinado, cá para baixo para os comuns mortais e as coisas parvas que eles gostam.
Para dar vida a esta sátira, o filme cria um elenco de personagens com características altamente pronunciadas de maneira a representar todo um arquétipo de pessoas que costuma frequentar este tipo de restaurantes que tem por hábito servir um montinho de algas e um espirro de um chutney como prato principal. Alguns exemplos destas personagens são a crítica de comida altamente exigente e arrogante, o ator que já foi famoso e procura desesperadamente ser relevante outra vez ou ainda os Wall Street bros que só querem mostrar que têm dinheiro.
Se, por um lado, até é bastante divertido assistir a tudo o que acontece a este desagradável grupo de pessoas, por outro, a crítica que o filme faz à arte elitista que é criada com o único propósito de ser complexa acaba por se perder um pouco, na minha opinião.
Este ponto de vista que o filme parece adotar de que a arte/media/conteúdo não deve ser muito pensada nem interagida– ou, pelo menos, só até um certo ponto – não me faz muito sentido. As narrativas (sejam elas filmes, séries, animes, videojogos) que eu mais gosto são, precisamente, as que mais puxam por mim e que me motivam a continuar a pensar nelas durante muito tempo depois de elas terem acabado!
Existe uma metáfora no filme que identifica o cheeseburguer como sendo um prato que, pela sua simplicidade, é muito melhor do que qualquer uma das criações complexas , mas desprovidas de paixão, que nascem das mãos do Chef Slowik (o protagonista, maestro do restaurante, espetacularmente interpretado por Ralph Fiennes).
Esta crítica, para além de démodé (a ideia de que ir a um restaurante com uma estrela Michelin é sinónimo de ir comer umas minhocas enroladas numa folha de lótus e pagar um balúrdio está completamente cansada), é infinitamente irónica: tendo em conta que o próprio filme acaba por parecer que se identifica com o clássico e intemporal cheeseburguer, autoproclamando-se como a melhor e mais simples refeição que pode haver, ele próprio cai no papel do principal alvo da sátira!
O Menu é um filme que dá que falar e, por isso, recomendo que vejam, formem a vossa opinião e a discutam com outras pessoas. Partilhem-na comigo também aqui no website ou no Instagram do Golden Take!
O filme já está disponível no Disney+.