Cabe a Captain Marvel, que estreia hoje nos cinemas, as honras de ser o primeiro filme a solo de uma heroína do universo Marvel e também o filme que se pode considerar “a última peça do puzzle” antes do tão aguardado Avengers: EndGame com estreia marcada para abril.
Como indica o título, é a introdução a uma personagem que tem capacidades e poderes que fizeram muita falta aos nossos heróis aquando da batalha com Thanos. No início do filme, temos uma personagem muito próxima da perfeição, determinada e com pouca margem de erro e sobretudo com uma auto-confiança quase arrogante, que em conjunto com as qualidades dos outros membros do grupo de combate, os torna quase inabaláveis, os Kree.
Contudo à medida que o filme vai avançando e Carol Danvers começa a ter flashbacks do seu passado, chegamos à conclusão que o seu maior poder não é a força que tem mas sim a capacidade de se reerguer dos momentos menos bons, a bom exemplo de muitos traços de identidade de outros heróis da Marvel.
Mas este factor ganha outra proporção quando se trata do primeiro filme onde a estrela é uma heroína. Este facto está patente ao longo do filme, onde Carol desde criança é “avisada” que situações que envolvam riscos eram coisas exclusivas ao sexo masculino.
Contudo o filme não abraça esta ideia criando um surpreendente equilíbrio entre acção e ideais, logo fazendo com que nada se sobreponha ao real objectivo do filme. Mas claro, como estamos nos anos 90, há sempre situações do quotidiano que são extremamente machistas mas sempre com o humor e sem peso no argumento.
O principal objectivo do filme é mostrar-nos a guerra entre os Kree e os Skrull (sendo estes últimos uma raça alienígena com capacidades de se camuflarem em qualquer ser). O outro objectivo do filme é mostrar que Carol é alguém à altura de Thanos e aí nota-se um cuidado especial da Marvel em montar bem a personagem para nós sairmos do cinema com essa certeza.
Mas devido a destes objectivos, o filme começa com um ritmo estranhamente lento em contraste com outros filmes MCU, chegando quase a ser enfadonho. Até que a nossa heroína chega à terra e aí é que a acção começa!
É a partir desse momento que Carol começa a mostrar todo o seu potencial e com a sua chegada dá logo de caras com um Nick Fury, ainda inexperiente em assuntos extraterrestres, acompanhado pelo seu parceiro simplesmente apelidado de Novato.
Após este momento sentimos mesmo que o filme entrou no ritmo certo a que a Marvel já nos habituou e grande parte disso se deve à personagem de Samuel L. Jackson e mais tarde a Lashana Lynch que interpreta Maria Rambeau uma ex-piloto de caças que só poderia pilotar em testes e que desafiava os tais preconceitos.
Podemos mesmo afirmar que sem estas personagens o filme seria bem diferente e a personagem principal de certeza não teria o mesmo impacto, mesmo que estas, não tendo qualquer poder ou capacidades extra-humanas, criam logo um elo de ligação com Carol.
Outra personagem em destaque é Monica, filha de Maria onde é possível ver a determinação de uma criança pelos seus sonhos e que no futuro provocará uma igualdade a que a sua mãe não teve direito e acaba por se tornar uma fonte de inspiração para a própria Carol.
Ben Mendelsohn, que volta mais uma vez a fazer papel de vilão, neste caso Talos, um dos líderes dos Skrull, tem uma interpretação irrepreensível e mais sensível do que estávamos à espera. Com personagens muito bem interpretadas e tendo como base uma BD tão cativante e poderosa, é um pouco surpreendente que a história não seja tão aprofundada como seria de esperar.
Este sentimento vem mesmo da própria ideia que a Marvel nos quer “vender” a personagem, como se fosse a principal “arma” da humanidade contra Thanos, logo seria espectável que fosse mais profunda.
Não significa que o filme seja mau, longe disso, apenas sabemos que poderia e deveria ser algo mais sobretudo contando com personagens tão ricas e numa década tão interessante (exemplo disso a ultra revivalista banda sonora).
É de estranhar pouca ousadia em contraste com tantos exemplos da MCU e ao contrário de muitos exemplos para este filme, é necessário um certo conhecimento do universo em que se insere. Mas o objectivo principal é cumprido e esse é introduzir-nos à heroína mais poderosa do universo e a última esperança, sem cair no erro de tornar um filme de estereótipo Girl Power.