Já se passaram 5 anos desde que em “Avengers: Endgame” Steve Rogers (Chris Evans) decidiu entregar a responsabilidade de ser Capitão América ao fiel companheiro Sam Wilson (Anthony Mackie).
Anos passaram e, mesmo após toda uma série televisiva pela frente em “Falcon and the Winter Soldier”, deparamo-nos agora com o primeiro filme em que Wilson já é reconhecido como Capitão América, não só por ele mesmo mas também pela sociedade dentro e fora do ecrã.

Depois de uma tentativa de homicídio falhada ao novo presidente da América Thaddeus Ross (Harrison Ford), Captain America vê-se numa conspiração tumultuosa onde tenta salvar a vida a Isaiah Bradley (Carl Lumbly) e compreender quem é a pessoa por detrás do controlo mental que algumas pessoas estão a sofrer. Tudo isto tendo como background o controlo de um novo material descoberto (adamantium) aquando o surgimento do Celestial no Oceano Índico. Sem esquecer toda a parte em que envolve Ross e a sua tentativa em não se transformar em Red Hulk.
Se isto parece muito ingrediente a ser cozinhado ao mesmo tempo, é porque assim o é. “Brave New World” é um filme malabarista, que tenta pegar em várias pontas soltas e atá-las num laço perfeito em menos de 2 horas de filme.
“Brave New World” tenta, ao mesmo tempo, gerir todas estas entidades:
- “O Incrível Hulk”, filme que estreou em 2008;
- “Avengers Endgame”;
- A série televisiva “Falcon and the Winter Soldier”;
- O pouco amado “Eternals”;
- O espírito cru de “Captain America: The Winter Soldier”
- A história de Red Hulk e como ele surge neste mundo;
- Introduzir novos elementos como o Adamantium e a revelação de um mundo novo para a MCU com o futuro surgimento de mutantes.
Esta nova entrada no Universo da Marvel tem muito para contar, muito para explorar, e um tempo limitado para o fazer. O resultado é que nenhuma das histórias é devidamente bem desenvolvida, fica tudo cozinhado a meio gás e a grande maioria das personagens e as suas vertentes são pouco exploradas.

No que toca à personagem principal, é inegável que Anthony Mackie tem carisma para dar e vender. Facilmente cria química com os seus colegas e é aparente em cada momento do filme. Porém, em termos de elenco, quem mais se destaca é Harrison Ford e o seu típico resmungar, que assenta como uma luva ao papel de Thaddeus Ross (uma substituição necessária devido ao falecimento de William Hurt). Ford trabalha o seu Ross em cada momento de frustração, raiva ou emocional, voltando a demonstrar o porquê de ser uma lenda viva do cinema.
Porém, não se pode dizer que todos os actores tiveram oportunidade para demonstrar o seu talento, especialmente Giancarlo Esposito que é incrivelmente subutilizado neste filme. O seu papel é demasiado curto, tudo para dar lugar ao vilão interpretado por Tim Blake Nelson que não chega a ter qualquer impacto visual ou intelectual no espectador. O seu plano é demasiado mesquinho e desprovido de qualquer réstia de lógica que, basta pensarmos durante 10 segundos para percebermos que não há nada de extraordinário nesta personagem.
Como a grande maioria dos filmes da Marvel, “Brave New World” está pejado de momentos de acção e, mesmo neste contexto, os momentos de combate neste filme são muito mais providos de realismo. E o momento do conflito aéreo junto ao Celestial é a cereja no topo do bolo no que toca à acção deste filme. Nota-se a inspiração em “Top Gun Maverick” nesta sequência.

Porém, apesar de entreter devidamente durante a sua duração e ter bons momentos singulares, “Brave New World” sofre de fraqueza no que toque ao seu bolo total. Quer e precisa de dizer tanta coisa e de juntar tantas pontas, que nenhuma chega a ser devidamente entusiasmante. O resultado é um produto que promete o futuro mas que é dos filmes mais seguros da MCU, não arrisca nem petisca.
É evidente que o argumento do filme sofreu voltas e voltas, que teve de ser vítima de extensas filmagens adicionais e este é, evidentemente, o resultado de um projecto que esteve em conflito consigo mesmo. O realizador Julius Onah teve a grande tarefa de fazer os possíveis com o que tinha em mãos e, analisando tudo, o produto em si não é péssimo, tendo em conta toda a tempestade que o envolveu. Porém, não é nada que se destaque no meio deste universo.
“Brave New World” pode ser visto como um filme que necessitava de ser feito para que este universo cinematográfico desse um passo em frente para um futuro mais risonho. Porém, enquanto produto em si mesmo, esta nova película de Captain America não oferece nem um mundo novo nem a braveza para destralhar novos caminhos.