A 13 de outubro, celebra-se o Dia Mundial do Escritor, e, por conseguinte, decidi escrever sobre “Capote”, o filme dedicado ao célebre escritor americano.
Para quem leu “In Cold Blood”, de Truman Capote, ou viu a adaptação cinematográfica da obra de 1967, “Capote” é uma obra fascinante e enriquecedora. Para os menos familiarizados com o caso de Perry Smith e Richard Hickock, que, em novembro de 1959, assassinaram uma família no Kansas, “Capote” não será terrivelmente esclarecedor por si só, mas fará com que o espetador queira procurar algum material de origem para obter uma visão mais completa do crime.
Mesmo quando o argumento discreto de Dan Futterman não aprofunda as particularidades da vida de Capote, Philip Seymour Hoffman (“Along Came Polly” de 2004), faz com que a experiência seja maravilhosa. Esta é uma performance incrível – transformadora, ao provar texturas de um homem aparentemente simpático, implacável e narcisista. A atribuição do Oscar a Hoffman por esta prestação foi, de facto, merecido.
Este filme biográfico de Truman Capote é centrado quase que por completo na pesquisa do autor sobre os homicídios da Família Clutter. Depois de ler a notícia no “New York Times”, Capote convence a “New Yorker” a publicar a história e viaja para o Kansas para acompanhar a investigação. Aos poucos, consegue ganhar a confiança dos locais, sobretudo a do agente Alvin Dewey, que lidera a investigação e a caça aos assassinos.
Perry Smith e Dick Hickock acabam por se condenados à morte, e Capote visita-os na prisão. À medida que os vai conhecendo, descobre que aquilo que inicialmente tinha sido pensado como um artigo de revista teria de dar lugar a um livro, um livro que poderia tornar-se um dos mais importantes da literatura moderna.

© Metro-Goldwyn-Mayer Studios Inc. All Rights Reserved
Apesar de quase ter enlouquecido pela pesquisa dos homicídios, pelas amizades malfadadas com os assassinos – e, consequentemente, por nunca ter escrito outro livro – “In Cold Blood” marcou o lugar de Truman Capote nos livros de história e foi motivo para ser saudado como um dos maiores escritores da América.
“Capote” poderia ter beneficiado de uma visão mais clara desta figura do ponto de vista da escrita, mas é cativante perceber até onde Truman vai para obter a sua história. Ele acaba por ficar emocionalmente envolvido com Perry e Richard, mesmo quando mente de boa vontade para manter a confiança dos dois homens, o que oferece o vislumbre mais valioso da personalidade impotente e egocêntrica de Capote.
Isto também é cimentado na sua amizade com Nelle Harper Lee, dedica ao seu trabalho, mas que aprende rapidamente a não esperar nada em troca. Lee, de Catherine Keener (“The 40-Year-Old Virgin”, de 2005), prova ser um excelente contraponto para Truman, segurando-o quando precisa, e por expressar de maneira sutil e astuta a sua compreensão de como ele é incapaz de sacrificar uma parte de si mesmo, mesmo que por um minuto, quando não se relaciona com o ganho pessoal.
Philip Seymour Hoffman assume o papel da figura histórica, cuja voz e personalidade poderiam ter seguido facilmente o caminho de caricatura, e que, felizmente, é evitada. Hoffman exalta este dilema de querer ajudar os assassinos condenados e desejar o pior em nome de melhorar o conteúdo do seu livro.
Na condição biográfica, “Capote” é muito superficial nos detalhes do passado de Truman, e como estudo do crime e dos suspeitos que inspirou “In Cold Blood”, não é suficientemente completo para ter o impacto que deveria.
Não obstante, o que impressiona não é apenas a performance maravilhosa de Philip Seymour Hoffman, mas a consideração provocadora do realizador Bennett Miller sobre os conflitos internos de um escritor atormentado pelo impulso egocêntrico de atenção e sucesso. Truman reconhece isso, mas não pode evitar, e Miller sugere que a sua incapacidade de permitir a compaixão humana na sua vida enquanto escritor foi a razão pela qual nunca concluiu outro livro.
Feliz Dia Mundial do Escritor!
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