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“Capone”: O Gangster Don Quixote

by João Borrega

Com um início de carreira atribulado, Josh Trank joga-se de pés e cabeça em “Capone”, onde se debruça sobre o último ano de vida do gangster.

Verdade seja dita – Josh Trank não teve um início fácil na sua carreira de realizador. Depois de todos os elogios que recebeu com o excelente “Crónica”, vê o seu nome a ser arrastado pela lama por críticos e fãs quando saiu “Fantastic Four”, em 2015. 

Agora, numa tentativa de voltar a recuperar o embalo positivo, Trank decide abordar uma história verídica neste seu “Capone”

Em “Capone”, vimos Tom Hardy no papel do célebre gangster no último ano da sua vida. Depois de sair da prisão e a sofrer de sífilis, ele começa a ter constantes ataques de demência, tal como uma deterioração agressiva do seu corpo. Enquanto está na sua mansão, sendo cuidado pela sua mulher Mae (Linda Cardellini), ele vê-se vigiado pelos seus capangas e pelo governo, todos à procura de 10 milhões de dólares que ele escondeu mas não se recorda onde. 

Josh Trank volta a pôr o seu cunho próprio no que toca a fantasia nesta sua biografia, com muitas sequências de alucinações por parte de Capone a povoar este filme, num género de Don Quixote malicioso. E esta torna-se a parte mais intrigante sobre o filme – o jogo de gato e rato com o espectador, ao tentarmos perceber o que é real e o que não passa de uma alucinação. 

Tudo isto suportado por uma interpretação de Tom Hardy que irá dar muito que falar. Num limiar entre o over-the-top e o incrível, Hardy não se inibe e mostra todos os seus trunfos, seja na postura ou na colocação da voz. Porém, tem muito pouco com que trabalhar para poder salvar este filme. 

“Capone” sofre pesadamente por não chegar a ter um propósito de existência. Nenhuma das personagens é inteiramente aprofundada, nem mesmo Capone, que não passa de uma caricatura de um homem deteriorado. Pouco se percebe sobre os interesses de cada personagem e, daquelas que Trank decide dar algum tempo de antena, o filme nunca chega a concluir as suas histórias. 

Com uma edição ríspida e desconcertante, o espectador é levado entre alucinações e realidade, sem conseguir perceber quais as regras do jogo. Está tudo misturado e pouco fundamentado, sendo que há momentos que nunca se chega a perceber qual a verdade. 

Até mesmo em termos de tom “Capone” joga para todos os lados. Pelo facto de ter pouca história para contar, Trank não se decide se quer fazer um drama sobre um dos homens mais odiados do século XX ou uma paródia sobre a deterioração mental de um indivíduo. Falha redondamente em ambas as partes. 

Já para não falar sobre o trailer que é bastante enganador. Faz passar o filme como um épico de acção de máfia, traições e enganos, sendo que o filme não é nada disso. É mais um drama melodramático, em que toda a acção que tem (que é bastante pouca) não passa de alucinações do nosso protagonista. 

“Capone” tem algo interessante com o qual se poderia trabalhar, mas nunca chega a alcançar o seu potencial. Apesar de uma performance interessante por parte de Hardy e de Cardellini, Trank demonstra que não teve capacidade para decidir o rumo da sua história – acabando por não contar nada. 

O filme está disponível em VOD para alugar na Amazon Prime.

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