Baseado no livro de André Aciman, Call me By Your Name (Chama-me Pelo Teu Nome) chega agora aos cinemas. Conta a história de amor entre Elio e Oliver, numa época em que uma relação homossexual não era bem vista.
O filme transporta-nos para o belo norte de Itália, no verão de 1983. Tudo o que se faz por lá é andar de bicicleta, apanhar sol, ler livros e mergulhar na piscina. Ou em qualquer lado, é onde calhar.
Mas tudo muda nesse ano para Elio Perlman (Timothée Chalamet), um adolescente cuja família recebe na sua casa de férias todos os anos, durante seis semanas, um estudante estrangeiro para ajudar na pesquisa académica do seu pai e professor, Mr. Perlman (Michael Stuhlbarg).
Oliver (Armie Hammer) é o aluno escolhido e praticamente tudo nele chama logo a atenção. O cabelo loiro, a sua estatura física de modelo e até mesmo a necessidade de explorar e aproveitar o momento.
Inicialmente, percebemos alguma reticência por parte de Elio em relação a Oliver por não entender bem o que vai na cabeça dele: seja pela sua forma “arrogante” de se despedir ou por desaparecer horas sem dizer nada a ninguém, o que faz com que a aproximação dos dois não seja imediata.
Escusado será dizer que Oliver e os pais de Elio se dão logo bem. Há até, no início, a simbologia da palavra alperce. É o nome de uma fruta que vai dar origem a uma das cenas mais íntimas do filme. Mais não posso dizer.
À medida que o tempo passa e que os dois se conhecem melhor, conseguimos perceber a química e cumplicidade criadas. Torna-se inegável para toda a gente que convive com eles diariamente. Apesar disto, ambos se envolvem com pessoas do sexo oposto mas sem se “chatearem” um com o outro sobre isso. No entanto, claramente percebemos que fazem isso para chamar a atenção.
E depois o inevitável acontece quando decidem assumir o que se passa entre os dois. O que antes era incerteza, dá agora lugar a um romance de verão… Cheio de paixão, momentos cómicos e outros tantos eróticos e algumas aventuras.
O bom deste filme é que não precisamos de ver as coisas explicitamente a acontecerem para termos uma ideia bastante clara da química que há entre eles nos momentos mais eróticos. Até o próprio título é dito no calor do momento quando se envolvem – “Chama-me pelo teu nome e eu chamo-te pelo meu” – e soa à coisa mais bonita que se podia ter dito para descrever aquela ligação entre eles, numa altura em que uma relação homossexual era condenável.
Sobre as performances dos dois atores principais, Timothée e Armie, posso apenas dizer que foram incríveis no desafio de representarem estas personagens, tendo em conta que foi a primeira vez que fizeram algo do género.
Há ainda pequenos detalhes que fazem toda a diferença: seja pela maneira como o filme está gravado – com os campos italianos como fundo e o contraste das cores (Luca Guadagnino conhece bem os cantos à casa e sabe como brincar com isso, visto que é italiano) -, a banda sonora escolhida – com especial atenção a Mistery of Love e Visions of Gideon de Sufjan Stevens – com músicas no piano a acompanhar a narrativa toda, já para não falar da música pop e outras coisas simbólicas que nos transportam para os anos 80 sem nos apercebermos bem como. Tudo isto ajuda a que estejamos no ambiente certo para assistir ao filme.
Esta dinâmica faz ainda com que a história seja verdadeiramente comovente e que duas horas passem num instante. E claro, termina da melhor maneira com um discurso inspiracional sobre a efemeridade da vida por parte do pai de Elio – “A natureza tem formas astutas de encontrar o nosso ponto fraco” – mas ainda com um close up de Elio junto à lareira destroçado por seis semanas terem passado tão rápido e agora cada um ter de seguir a sua vida, longe um do outro.
É, sem dúvida, um forte candidato aos Óscares deste ano (4 de março). Marca especialmente pela sua simplicidade, já havendo comparações ao vencedor de 2017, “Moonlight”.