Sacha Baron Cohen surpreendeu todos ao dizer que a sequela de “Borat” foi gravada em segredo em pouco tempo. Agora que já estreou na amazon, será que “Borat 2” é uma surpresa agradável?
2020 foi um ano de muitas surpresas, todas geralmente voltadas para uma vertente negativa. Porém, uma das mais empolgantes e agradáveis no mundo do entretenimento ocorreu quando Sacha Baron Cohen afirmou que a sequela do sucesso “Borat” já estava gravada, editada e pronta para ser lançada ao público. Poucos meses depois e já podemos assistir ao produto final.
“Borat 2” – o título oficial é gigante, nem me vou meter por esses caminhos – foi realizado em segredo, sigilo máximo e prometia vir a ser uma bomba para o contexto americano que se vive nos dias de hoje. E, pelo que já se pode ver a circular pelo mundo jornalístico, de facto cumpriu a sua promessa.
14 anos após a estreia do primeiro filme, “Borat 2” volta a colocar-nos como observadores das aventuras de Borat por terras americanas, enquanto que este tenta trazer algum orgulho à sua nação ao entregar um presente ao vice-presidente americano Mike Pence. Porém, desta vez, ele é acompanhado pela sua filha Tutar (Maria Sagdiyev), tornando-se depressa num filme sobre como construir uma relação entre pai e filha.
Tal como o seu antecessor, “Borat 2” é uma bomba satírica para a nossa sociedade, com especial foco para o Estados Unidos da América. Num ano de tanta turbulência social, cultural e política, Sacha Baron Cohen volta a vestir a pele desta personagem para desmascarar a América que muitas vezes não é transmitida em horário jornalístico.
Sempre com mensagens subliminares e muito improviso à mistura, Baron Cohen e Maria Sagdiyev colocam-se em situações extremas, envolvidos por pessoas reais, de modo a conseguir colocar o dedo na ferida e fazer-nos ver que ainda existe muito que pode ser mudado – ou que será impossível mudar, dependendo do ponto de vista do espectador.
Seja sobre o contexto político americano, o aborto, o abuso sobre as mulheres ou até mesmo a pandemia do Covid-19, Sacha navega de forma tão própria dentro destas situações, enquanto que nós vamos vendo o filme a ser construindo aos poucos à nossa frente à medida que Sacha percebe os rumos que terá de seguir para conseguir contar a sua história.
É, de facto, fascinante ver a habilidade dos actores do filme a adaptarem-se às situações, sem receio do ridículo, sem receio dos efeitos que podem ter de um certo acto ou uma mera frase num determinado momento. E só de pensarmos que isto foi tudo gravado em segredo. É de loucos.
E claro que, mesmo em tudo aquilo que se envolvem, Sacha e a sua equipa nunca deixam de ter como foco principal a história que querem contar sobre a construção da relação entre pai e filha. É aqui que reside o coração do enredo, onde conseguimos criar alguma ligação com as personagens e que nos mantém presos ao filme de forma a conseguirmos perceber como tudo terminará para estes dois.
Aquilo que pode ser tido em conta como lados mais frágeis sobre este “Borat 2” recaí sobre o impacto que o filme original teve quando estreou em 2006.
O primeiro Borat foi, indiscutivelmente, um estrondo. Um sucesso global incalculável, que se entranhou rapidamente no zeitgeist cultural. “Borat 2” tem a tarefa árdua de se meter nos sapatos deste sucesso, sendo isto algo justo ou não. E, como o espectador já sabe o que o espera com esta personagem, já não existe tanto o arrombo do factor surpresa, diminuindo o impacto desta sequela.
Para além de que o primeiro filme está construído de forma exímia para ser intemporal. Apesar de realçar alguns problemas existentes na sociedade da altura, “Borat” abordou estes temas com uma vertente tão geral que faz com que envelheça como um bom vinho.
Todo o enredo de “Borat 2” está tão profundamente enraizado no contexto político e social actual que faz com que, daqui a uns tempos, já comece a ficar um pouco datado. Esta sequela não terá a intemporalidade do seu antecessor, sendo que daqui a uns anos isto não irá corroborar a seu favor.
Porém, fora todos estes pontos de perspectiva do agora, “Borat 2” é uma sátira brilhante, sem medo de apontar o dedo a qualquer pessoa e de espetar um espelho à nossa frente para vermos a desgraça em que a sociedade está. Apesar de tudo, não tem medo de mostrar a esperança ao dizer-nos que a salvação da sociedade está na criação de relações saudáveis entre as pessoas. E, se este pai e esta filha conseguem criar uma ligação tão pura e forte, porque não nós com os nossos vizinhos.