Desenganem-se, Bohemian Rhapsody não é um documentário mas consegue ser uma óptima homenagem a Freddie Mercury e como consequência, à banda épica, Queen. O filme já está nas salas de cinema e preparem as vossas cordas vocais porque não vão conseguir parar de cantar.
Quando vi a pontuação no Rotten Tomatoes, não quis acreditar que o filme pudesse estar ao nível dos 50% e a verdade é que, após ter visto o filme, discordei logo.
Os maiores fãs de Queen apontam erros na cronologia das músicas, concertos e não só, mas esse, pelo menos para mim, não é o maior foco do filme porque percebo o lado mais dramático e típico de filme de Hollywood que quiseram dar.
Bohemian Rhapsody conta o percurso de vida de Freddie antes mesmo de ter este nome (no filme percebem) e como é que foi toda a jornada de se juntar aos Queen e de crescerem como banda, até ao concerto do Live Aid em 1985.
Tenho de começar por dar muito mas mesmo muito crédito a Rami Malek que assumiu o papel do incrível Freddie Mercury com distinção. Teve professores de dança, teve professores de movimento, estudou o artista ao pormenor e todo esse trabalho culmina na representação brilhante que tem neste filme. Claro que Rami nunca conseguirá imitar Mercury na totalidade (nunca ninguém vai conseguir na verdade) mas honestamente esteve muito perto do que seria o esperado.
Mas não é só Rami que está incrível neste filme, também o resto dos elementos da banda de Queen, protagonizados por Gwilym Lee (que está só igual a Brian May, especialmente nas expressões), Ben Hardy como Roger Taylor e Joseph Mazzello como John Deacon estão muito parecidos aos artistas na vida real.
O que consigo achar realmente interessante neste filme é a maneira como contam a jornada de Freddie ao longo dos anos até ao culminar do concertodo Live Aid em 1985, considerado um dos melhores concertos de sempre, que inicia e finaliza o filme numa cena inteira de arrepiar.
Incrivelmente essa foi a primeira cena a ser gravada no primeiro dia das gravações e o pormenor dado ao concerto é só maravilhoso. Rami tenta imitar na perfeição todos os movimentos do cantor durante a atuação o que faz com que seja mesmo um dos pontos altos do filme – tem de ver para conseguirem acreditar em mim.
Vemos ao longo do filme alguns dos melhores momentos da vida do cantor como juntar-se à banda, compor algumas das músicas que ainda hoje são um sucesso e, claro, a relação super especial que teve com a sua ex-mulher Mary – protagonizada por Lucy Boynton – mulher que ele sempre apelidou de love of my life, mostrando a amizade que os dois mantiveram mesmo depois de se separarem.
Mas também temos representados alguns dos piores momentos como a vida louca que ele levava entre bebida, drogas e amantes, até mesmo algumas reacções mais inesperadas para com a banda, a acabar no diagnóstico da sua doença que se viria a tornar mortal, a SIDA.
Se a timeline de quando as músicas foram compostas está certa? Não. Se a aparência do Freddie não era assim em certo ano? Talvez não. Se o ano em que foi feito o diagnóstico está certo no filme? Também não. Mas o filme não precisa de todos estes pormenores para se tornar num filme bom.
Percebo a ideia de que talvez ter mais “coerência” com os factos reais seria uma homenagem ainda melhor, mas o filme traz-nos música, traz-nos alegria, risos, também algumas lágrimas com momentos mais emotivos, a excentricidade e melhores estilos do vocalista… Traz-nos tudo o que podemos pedir de uma banda como os Queen e de Freddie e representa aquilo que eles são e que várias vezes dizem no filme:
“We’re four misfits who don’t belong together, we’re playing for other misfits. They’re the outcasts right at the back of the room. We’re pretty sure they don’t belong either. We belong to them.”
Claro que também não me importava se tivessem sido mais rigorosos e que tivessem posto mais detalhes na composição das músicas e até mesmo em certos momentos como banda, mas overall, o filme não perde assim tanto por não mostrar isso – até porque há diversos momentos do filme que aconteceram mesmo.
E porque, apesar de englobar a banda e o percurso da mesma, para mim o filme é sobre Freddie e nisso, tem o seu mérito e posso dizer que gostei especialmente de o filme ter ido apenas até ao Live Aid e de não ter mostrado nada depois disso, como o impacto que a doença teve nele, porque não é isso que nos queremos lembrar quando pensamos em Mercury.
Mesmo com os problemas que a produção teve, acho que conseguiram fazer um filme que vai deliciar qualquer fã, mesmo que não tenha todos os pormenores que eles possam querer e é impossível sair do cinema sem um sorriso na cara ou sem cantarolar todas as músicas dos Queen o resto da semana (ainda não parei!).
PS: E a experiência em IMAX ajudou muito, acreditem.