A certo ponto do especial de comédia Inside não sabemos ao certo quem estamos a ver: uma personagem que retrata de forma tão crua algo pelo qual todos nós passámos, ou um homem a ter um esgotamento nervoso em frente à câmara, de criatividade numa trela, enjaulada entre quatro paredes. Câmara que, como Bo menciona no início, é o único acompanhante e espetador físico desta mini-odisseia que é o Inside.
Bo mostra-se como nunca se mostrou antes: a exposição pessoal, abordando abertamente a sua saúde mental e o seu impacto na carreira. Isto parece desviar-se um pouco do registo que conhecemos, talvez pela sensação quase avassaladora que todos reconhecemos e em que nos revemos, nem que seja em parte. A solidão, a ansiedade, o desespero e a incerteza que a humanidade sentiu coletivamente no último ano e meio, completamente encapsulado na hora e meia do Inside.
O génio de Bo Burnham passa mesmo por isso: Inside entreteve-me bastante, mas deixou-me com um peso irremediável na cabeça. O peso de uma presença online cronicamente constante, que todos nós envergamos diariamente, e que se exaltou durante a pandemia. O peso de falso ativismo pretensioso, que não vai para além de uns quantos likes no Instagram. O peso da fome para criar algo, e a sensação de que este ano que passou nunca será mais do que um buraco.
Claro que tudo isto vem de cada um. As nossas experiências pessoais, quer sejam boas ou más, acabam por ser nada mais que pessoais, individuais. Afinal de contas, não acabámos de ver um homem a ter um esgotamento nervoso.
Vimos alguém a representar a perspetiva específica de alguém que se viu privado do mundo exterior, de forma visualmente incrível.
Inside é um especial de comédia não-tão-cómico, que deixa um sorriso na cara e um gosto amargo na boca.
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