É concebível escrever ou afirmar que já se passaram dois anos desde que o último filme da Marvel chegou aos cinemas? É certo que o público tem sido agraciado com vários projetos de qualidade que têm chegado ao Disney Plus, não obstante, ver um filme da Marvel no grande ecrã proporciona uma sensação especial. E, efetivamente, com “Black Widow”, podemos matar as saudades.
Esta aventura a solo da personagem interpretada por Scarlett Johansson, assume a função de prequela, com a ação a decorrer após “Captain America: Civil War” e a terminar cerca de duas semanas antes do início de “Avengers: Infinity War”.
Com estreia simultânea nos cinemas e no Disney Plus via Premier Access, este filme serve para encerrar o ciclo da personagem que surgiu pela primeira vez em “Iron Man 2”, e que, desde então, assumiu uma posição poderosa no Universo Cinematográfico da Marvel.
Em “Black Widow”, Natasha Romanoff enfrenta uma missão penosa, que a vai obrigar a remexer com o seu passado misterioso. Natasha é forte, inteligente e engenhosa. Todos lhe reconhecemos estes predicados. Mas, na verdade, nenhum de nós conhece o seu passado. Que laços ficaram para trás? O que é que aconteceu em Budapeste?
(Nota: Para aqueles que ainda não viram “Avengers: Endgame”, recomendo plenamente que assistam o filme antes de lerem esta review, visto que a obra espelha acontecimentos que influenciam fortemente o decurso de “Black Widow”.)
Spoilers de “Endgame” abaixo
Em “Avengers: Endgame”, Natasha sacrifica-se para ajudar Clint Barton (Jeremy Renner) a adquirir a Pedra da Alma, para que os Vingadores consigam trazer de volta todos os que desapareceram após o snap de Thanos. “Black Widow” ocorre imediatamente após os acontecimentos de “Captain America: Civil War”, mas precede “Avengers: Infinity War” e “Endgame”.
O filme começa em Ohio, no ano de 1995, quando Natasha (Ever Anderson) ainda é criança. A partir daí, vamos conhecendo o rumo dos eventos que, a dada altura, conduziram a personagem ao treino em combate e espionagem nas instalações secretas da “Red Room” (expansão da premissa que começou por surgir em “Avengers: Age of Ultron”). Por conseguinte, com o decorrer da longa-metragem, também vamos sendo apresentados a Yelena Belova (Florence Pugh), uma outra “viúva negra”, Alexei Shostakov (David Harbor) e Melina Vostokoff (Rachel Weisz), uma cientista da “Red Room”.
Pugh é, por falta de uma melhor conjugação de adjetivos, cínica e adorável na sua pele de assassina profissional. Yelena é uma figura letal mas, em adição, é extraordinariamente engraçada. Ela consegue ficar cara a cara com Natasha, mas tem um humor peculiar que contrasta fortemente com a personagem principal.
Alexei Shostakov, de Harbour, cruza-se na história de Natasha e Yelena. É um homem que faz os possíveis para ser o melhor, mesmo que a realidade não seja tão animadora quanto a imaginação. A sua imagem de marca é a lábia. Para ele, a Rússia nunca conseguirá fabricar um número suficiente de medalhas que justifiquem o seu heroísmo, mesmo que a sua história sobre lutar contra o Capitão América não faça sentido, ou será que faz? Ao seu lado, surge Vostokoff, de Weisz, que trabalha no programa da “Red Room”, que Natasha julgava ter dissolvido há vários anos atrás, quando desertou para a S.H.I.E.L.D.
Deixando de lado a ausência dos sotaques russos, os quatro personagens acabam por enfrentar a séria ameaça em torno do programa de “Viúvas Negras”, que transforma raparigas inocentes em assassinas mortais.
Para além disso, “Black Widow” também apresenta uma personagem de longa data das Comics – Taskmaster, cuja identidade é alterada nesta adaptção ao universo cinematográfico da Marvel. Não obstante, ambas as versões partilham a mesma capacidade de adquirir reflexos fotográficos, que permitem ao vilão imitar as habilidades de combate (mas não os poderes) de qualquer adversário. Seja como for, no filme, a identidade da personagem é uma grande revelação.
Depois de vários anos com filmes que incluíram batalhas espaciais e viagens no tempo, é revigorante voltar aos primórdios da Fase 2 do UCM, num estilo de filme muito semelhante com “Captain America: The Winter Soldier”.
No fim de contas, é ótimo ver (finalmente) Scarlett Johansson a protagonizar o filme que o público da Black Widow tanto clamava. De facto, a atriz está certa ao afirmar que, se este filme tivesse sido feito há uma década, não existiria agora um impacto tão flagrante quando comparado com outra personagem bem consolidada.
Depois de uma década, Johansson passa o testemunho e, se é verdade que a obra serve de capítulo final, assume também o seu cariz de história de origem, ao oferecer uma aventura simples à maneira da Marvel – pessoal, cheia de ação e uma boa configuração para o futuro.
Seguindo a tradição, à medida que os créditos comessem a surgir, fiquem nos vossos lugares a aguardar pela cena que acende o fósforo para o que aí vem. Com o universo a seguir rumo ao espaço, com “The Eternals”, “Thor: Love and Thunder” e “The Guardians of the Galaxy Vol. 3”, é bom ver que eles ainda encontram valor em histórias da velha guarda.
O filme transmite um ambiente bem-vindo do mundo real, enquanto viaja de um país para o outro, incluindo Noruega, Hungria, Marrocos, Reino Unido e Estados Unidos. E, ao contrário de alguns filmes que utilizam cenários para dar a impressão da sua presença internacional, “Black Widow” leva-nos mesmo até aos sítios para que possamos saborear a atmosfera de cada local. Assim, de certa forma, posso dizer que é um James Bond da Marvel – repleto de uma variedade de locais, dispositivos, truques e armas muito porreiras.
Desta feita, a realizadora Cate Shortland aproveitou bem a oportunidade para mergulhar no passado de Natasha, para que pudéssemos conhecer as pessoas e os momentos que a ajudaram a assumir a identidade de Vingadora.
“Black Widow” vai estrear simultaneamente nos cinemas e no Disney Plus via Premier Access. Porém, se conseguirem e quiserem celebrar condignamente o legado de Natasha Romanoff, façam um favor a vocês mesmos: vejam este filme numa sala de cinema com a vossa família ou com amigos. Não há melhor maneira de homenagear esta camarada de guerra.