“Birds of Prey” é um deleite tonto espelhado num R-rated que solicita elementos de inspiração tão díspares como “9 to 5,” Bugs Bunny e Modesty Blaise para criar uma aventura que aprimora a familiaridade do seu gênero, com rajadas deliciosas de anarquia e inteligência.
Numa espécie de sequela que se eleva muito acima de “Suicide Squad”, o filme coloca os holofotes em Harley Quinn (Margot Robbie), enquanto cria (às vezes literalmente) um novo rumo para a sua vida depois de se ter separado de Joker (na versão de Jared Leto).
Ao descobrir o poder que sempre almejou, e libertar-se do sentimento de tentar agradar a um homem disfuncional, Quinn consegue trilhar um caminho onde é protagonista.
Com o argumento de Christina Hodson, “Birds of Prey” conta uma história de emancipação, e este ato não se refere apenas a Harley Quinn, ou às outras personagens femininas. Este filme acaba por ser a libertação do conceito de “super-herói” liderado e criado por homens.
Em “Birds of Prey”, Harley Quinn está sozinha pela primeira vez, e tenta seguir em frente com a sua vida para descobrir quem é verdadeiramente, sem a influência de Joker. Embora a sua identidade tenha estado ligada ao palhaço do crime durante muito tempo, esta é uma experiência bastante enriquecedora. Harley perdeu a proteção de ser a namorada de um entidade de alto gabarito em Gotham, o que a coloca numa situação complexa.
Na busca pelo diamante Bertinelli, para entregar a Roman Sionis; aka Black Mask (Ewan McGregor) em troca de proteção, Harley conhece a detetive Renee Montoya, Huntress e Cassandra Cain.
Gradualmente, Harley percebe que o grupo de mulheres vai precisar de unir esforços para derrotar Black Mask, e obter a sua própria emancipação. O tema da emancipação percorre todo o argumento de Hodson, e o filme incorpora diferentes tipos de libertação – não se trata somente de mulheres que se libertam dos namorados abusivos ou dos patrões psicóticos, mas também a liberdade e o poder de encontrar um grupo em que se sentem aceites e apoiadas.

Fotografia: NOS Audiovisuais
Para além do argumento, o que eleva realmente a qualidade do filme é a realização e a visão de Cathy Yan para toda a obra. As cenas de luta são absolutamente brutais e coreografadas de maneira a mostrar as respectivas habilidades das personagens. “Birds of Prey” destaca-se por ser exclusivamente feminino, desde os estilos de luta dos personagens até ao detalhe de Harley efetuar uma pausa a meio de uma luta para ajudar a colega a prender o cabelo.
Por conseguinte, isto estende-se ainda mais às roupas, desenhadas por Erin Benach, que são requintadas e mostram perfeitamente a personalidade de cada uma das heroínas. A banda sonora também funciona de forma razoável, o que proporciona ao filme toda uma energia divertida, um pouco caótica e totalmente única.
Desta feita, o argumento de Hodson e a performance de Robbie retratam a doença mental de Harley de forma mais subtil do que em “Suicide Squad”.
“Birds of Prey” é, de facto, a história de Harley, mas os outro “pássaros” também têm tempo para brilhar, mesmo que as suas histórias de origem pareçam um pouco atabalhoadas numa história já alucinante.
Além de Robbie, é Ewan McGregor quem mais se destaca no filme, pela natureza do seu Black Mask, que tanto varia de dramaticamente ameaçador a errático, e desliza de forma hábil entre as personas para criar uma contrapartida eficaz a cada uma das personagens.

Fotografia: NOS Audiovisuais
Em contrapartida, a longa-metragem tropeça um pouco enquanto se deixa levar na onda de capricho da Harley, dificultando o seu acompanhamento por vezes, mas a aventura em si é divertida o suficiente para manter o público atraído – e quando as peças do puzzle se juntam, é muito engraçado.
O filme é colorido, barulhento e, acima de tudo, é apelativo. A fotografia de Matthew Libatique é impressionante, com cenas repletas de efeitos estéticos em câmera lenta e bombas coloridas, além do neon e uma boa dose de violência chocante.
O valor de produção dos cenários principais, particularmente no bar da Black Mask, o apartamento da Harley Quinn e a casa de diversões foram fantásticos – ao revelarem um lado diferente de Gotham que normalmente não vemos nos filmes sobre Batman.
A quantidade de talentos femininos envolvidos na banda sonora também é de se tirar o chapéu, ao apresentar uma mistura de trabalhos novos e restaurados. Os destaques particulares vão para “Joke’s On You”, de Charlotte Lawrence e “It is a Man’s World”, de Jurnee Smollett-Bell.
Em suma, este sucessor espiritual de “Suicide Squad” é um tumulto estridente de cor, violência e música !
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