“Má Educação” (Bad Education) é o segundo filme do realizador Cory Finley (em 2017 estreou-se com o thriller de comédia negra Thoroughbreds ) que traz agora para o grande ecrã um drama/comédia baseado nos eventos reais da maior burla no sistema de escolas públicas nos Estados Unidos da América.
A história foi adaptada de um artigo original da New York Magazine (“The Bad Superintendent” por Robert Kolker) pelo argumentista Mike Makowski que, à data dos acontecimentos em 2004, frequentava o 3º ciclo numa das escolas do distrito escolar de Roslyn, Long Island e chegou a conhecer Frank Tassone, o superintendente responsável pela fraude.
Através do contacto com professores,vizinhos e ex-alunos que conheceram Tassone, Makowski cria uma personagem fascinante e proeminente que vai muito para além do que seria de esperar de um típico burlão.
Frank, através da brilhante interpretação de Hugh Jackman, ostenta uma presença magnética ao longo de todo o filme. Esta personagem que poderia ser um vilão unidimensional, ganancioso e mesquinho é, neste caso, um homem ambicioso, intimidante e manipulador mas que também tem um lado sensível e chega a mostrar, por vezes, uma vulnerabilidade (quase) antitética a quem aparenta ser em público. Jackman apresenta-nos um abrangente leque de emoções através de mudanças subtis na sua postura e expressões faciais e, ao adoptar uma série de maneirismos que complementam a personagem de Frank Tassone, consegue uma das melhores performances da sua carreira (senão a melhor).
No que se começa a tornar a imagem de marca de Cory Finley, este filme tem um fantástico sentido de humor apesar de não abordar uma temática da qual se esperaria muitas gargalhadas. Com a ajuda de um elenco experiente na comédia (Allison Janney, Ray Romano), Finley consegue encontrar o insólito e o caricato no quotidiano de um supervisor e da supervisora-assistente de um agrupamento de escolas públicas.
Pam Gluckin é a superintendente-assistente de Frank Tassone e a outra metade desta parelha de vigaristas. A cumplicidade entre os dois e as cenas que partilham são das mais divertidas do filme. Allison Janney encarna este papel de uma mulher com dúbios princípios de ética e, para surpresa de ninguém, fá-lo na perfeição. Ao dar o peso necessário aos momentos dramáticos e, por outras vezes, fazendo uso do seu preciso “comedic timing” cria uma personagem com atitudes que, apesar de serem condenáveis, são fáceis de entender as razões que as motivaram.
A fotografia da autoria de Lyle Vincent é também merecedora de destaque: ao utilizar uma luz sóbria na iluminação do filme consegue obter uma imagem fria e impecável que é consistente com a aparência que Frank Tassone quer fazer transparecer a todos os que o rodeiam.
A conjugação da cinematografia com uma banda sonora composta maioritariamente por peças de música clássica (e de uma utilização acutilante do tema In This World de Moby) ajuda a estabelecer o tom do filme e a criar um clima ominoso, na antecipação de sabermos qual será o fado das personagens principais.
“Má Educação” é dos melhores filmes que saíram este ano (até agora) e deixa-me muito curioso para saber qual será o próximo projecto de Cory Finley. Podem ver este filme na HBO Portugal e, se gostarem tanto quanto eu, torcer pelo Hugh Jackman na cerimónia dos Emmys no próximo dia 21 de Setembro.