A Star is Born é literalmente o remake do remake do remake do filme original, sendo este de 1937. Até 2018, esta história já derreteu muitos corações em várias gerações com Judy Garland e James Mason, Barbra Streisand e Kris Kristofferson e claro com os originais Janet Gaynor e Fredic March.
Este terceiro remake traz-nos Bradley Cooper como realizador e protagonista do filme e a cantora Lady Gaga, cujos dotes musicais já são bem conhecidos do público mas os de atriz nem tanto.
Jackson Maine (Cooper) no filme é um músico no auge da sua carreira, mas na sua vida pessoal lida com problemas de álcool e drogas. Nunca se percebe bem a origem desta dependência mas o filme dá a entender que se deve ao facto do seu problema auditivo que vemos a piorar ao longo do filme.
Depois de um concerto e de acabar com as garrafas disponíveis (e não, não é de água), vai à procura de álcool,o que o leva a entrar num bar cheio de drag queens. Até que surge uma rapariga chamada Ally que sobe a palco para interpretar La Vie en Rose e é aclamada pelo público presente. [Curiosamente foi a cantar a mesma música que Cooper ouviu pela primeira vez Gaga a cantar ao vivo.]
A voz da cantora chama imediatamente a atenção de Jackson, que, minutos depois de a conhecer, a convida para beber um copo. E é assim tão brevemente que temos uma história de amor que dura até ao final do filme e é marcada com a icónica frase – I just wanted to take another look at you” que está presente em todas as versões deste filme.
Pelo meio desse primeiro encontro, Ally mostra a música que tem vindo a compor e explica que não chega longe como compositora devido à sua aparência – especialmente ao seu nariz grande, que é algo que afeta também Lady Gaga na vida real.
Essa música mais tarde, é tocada em palco, num dos concertos de Jackson, no qual ele convida Ally para cantar à frente de um público grande – e temos um dos hits do filme e um dos momentos mais bonitos ao som de Shallow.
A banda sonora ganha muito pelas músicas mais bonitas do filme como Never Love Again e Always Remember Us This Way. Já sabíamos que a Lady Gaga tinha aquele vozeirão que tanto ouvimos durante o filme (e se não sabiam aconselho mesmo a irem ouvir as baladas dela).
Os meus momentos preferidos dela a cantar foram sem dúvida, os momentos mais emotivos do filme nas músicas referidas acima ou por outras palavras, quando ela está a cantar uma música que carrega sentimento. No que toca a todo o processo super repentino de a transformar numa cantora pop, só pareceu mesmo que estávamos a ver um filme inspirado no lado mais comercial da Lady Gaga.
Todo este amor repentino e extremamente intenso, teve os dois lados da moeda. Por um lado, “salvaram-se” um ao outro. Jackson apostou no talento de Ally sem esperar nada em troca, simplesmente porque acreditava no potencial dela e claro, porque estava apaixonado.
Por outro lado temos Ally que sempre incluiu Jackson em todos os momentos, mesmo quando ela já tinha sucesso e ele era substituído por cantores mais novos.
E esse é o grande contraste do filme, ver como o sucesso de um passou para o outro mas como é que eles lidavam com a sua vida pessoal juntos. Como é que Ally mudou completamente o seu estilo musical e a sua aparência para se adaptar ao sucesso e como Jackson se continuou a afundar na bebida e droga, chegando mesmo a envergonhar a mulher.
Há até um momento em que ela ganha um Grammy com uma música “comercial”, que não tinha de todo o sentimento que ela depositava nas suas canções quando Jackson a conheceu, e aqui percebemos a futilidade que ela tanto falava em Shallow, virando o feitiço contra o feiticeiro.
Essa mudança em Ally nota-se gradualmente que afeta Jackson, e ele chega mesmo a explodir bêbado dizendo-lhe o que pensa das músicas dela, ao que ela não reage bem.
Não vale a pena falar do final porque é impossível alguém ficar indiferente. É o culminar de todas as ações, de todos os sentimentos, de todas as coisas não ditas entre os dois e a terrível consequência de todos os atos.
É mesmo aquele momento em que Ally percebe que aconteceu o inevitável e culpa-se. E todo este momento é sufocante muito graças ao trabalho de câmaras, focando-se muito em Jackson e nos elementos mais importantes para ele: o cão deles, Charlie (que é mesmo o cão de Cooper) ou por exemplo, o seu chapéu e claro, na imagem final, o foco em Ally, o momento em que a verdadeira estrela nasceu.
A representação de Lady Gaga rouba as atenções sempre que aparece e Bradley Cooper que é o homem à frente e por trás das câmaras, juntos, têm uma química que traz muito valor ao filme – diria até mesmo que são um par perfeito.
Se durante o filme sentimos cada beijo que eles dão, cada abraço, cada brilho nos olhos, é sem dúvida algo que também passa para fora do ecrã, como foi na estreia do filme em que eles até as mãos deram. Já para não falar do facto que quando cantam juntos, até dá um aperto no coração.
E quase conseguimos perdoar a desafinação de Cooper numa das cenas. Quase.
Se formos a ver bem, a narrativa é bem simples, não tem muito que se lhe diga. Se tirarmos as boas representações destes dois e a banda sonora, o filme espremido, não dava sumo.
Este é um filme que nos mostra o bom de encontrarmos a pessoa certa para a nossa vida mas também nos mostra como não ceder às dependências dos outros, evitando o assunto. É um filme que aborda o luto, a falta de “auto-estima” e algumas futilidades que temos no dia a dia.
Vertemos algumas lágrimas, sentimos tudo o que há para sentir mas no fim, não sinto que corresponda ao hype que teve. Brevemente irei ver as versões anteriores para comparar para conseguir talvez dizer que é o melhor de todos os remakes.