Foram várias as adaptações de Winston Churchill que já vimos no cinema por atores como Robert Hardy, Albert Finney ou Richard Burton. Desta vez, cabe a Gary Oldman fazer uma representação fiel do político em “A Hora Mais Negra” (Darkest Hour).
O filme leva-nos até maio de 1940, ano em que Churchill se torna Primeiro Ministro do Reino Unido enquanto os britânicos passam por uma fase mais negra, como sugere o título.
Com a Alemanha a invadir a França, Neville Chamberlain (Ronald Pickup), primeiro ministro na altura, é forçado a demitir-se do cargo. A escolha teria sido Lord Halifax (Stephen Dillane) mas este renuncia o cargo, o que faz com que Winston seja posto em cima da mesa, apesar da tragédia de Gallipoli que marcou a sua carreira política, deixando todos reticentes com esta decisão de o meter ao poder.
É curioso que a primeira vez que a primeira cena de Churchill (Gary Oldman) neste filme é na sua cama, de robe, a fumar os seus habituais charutos e a tomar o típico pequeno almoço inglês, o que faz com tenhamos um equilíbrio no que toca em conhecer este ícone na política mas também no seu ambiente familiar.
Acompanhamos então a subida dele a PM, com o rei muito retraído com esta decisão, especialmente quando Winston decide adoptar uma estratégia que faça com que o Reino Unido vença e não que se renda através de um acordo de paz, como era o expetável. Outrora Churchill já tinha avisado que Hitler ia ser um problema, sem sucesso, e não queria curvar-se agora perante ele de maneira alguma.
E claro, no decorrer destes acontecimentos, surge ainda a questão do cerco das tropas britânicas na ilha de Dunquerque: 300,000 homens que o política queria tirar de lá a todo o custo, contando com o sacrifício de várias pessoas para isto acontecer.
Assim que se ouve falar disto, é quase imediata a transição mental para o Dunkirk de Nolan, que também se encontra na corrida a vários prémios. Neste filme vemos como surgiu a Operação Dynamo e como foi executada e Dunkirk faz-nos sentir na pele o que aqueles homens passaram até serem resgatados. Uma excelente combinação, digo já em forma de recomendação para os mais distraídos.
Mas esta Hora Mais Negra não era a mesma e poderia tornar-se bastante aborrecida se não fosse o trabalho de dois homens.
O primeiro é Joe Wright que já conheciamos pelo trabalho dele em Anna Karenina, Atonement, Pride and Prejudice e nunca ficámos desiludidos. Mas ele pegou neste filme e tornou-o em algo bonito visualmente, fosse pelo ângulo e movimento da câmara mas especialmente pelos close ups feitos a Churchill de modo a focarmos as nossas atenções naquele homem, o centro do filme, o homem do momento.
E claro, o segundo homem que tornou tudo possível é Gary Oldman que facilitou bastante o trabalho como excelente ator que é.
Conseguimos perceber que é ele que está por baixo de toda a maquilhagem (mais de 200 horas) feita para que se assemelhasse fisicamente à pessoa que estava a representar mas a maneira como ele representa o murmurar do político, a forma de andar, a forma de discursar… Esquecemo-nos logo que é ele e vemos Churchill ali à frente dos nossos olhos.
E não deve ser nada fácil interpretar este homem que escapou novo de um campo de prisioneiros na África do Sul, que teve de tomar a arriscada de decisão de continuar a guerra numa altura em que as responsabilidades que ele tinha eram maiores do que alguém podia suportar. Um Nobel da Literatura, que chorava quando recebia más notícias, que pintava e que fumava charutos como se não tivesse pulmões (Oldman chegou mesmo a sofrer um envenenamento de nicotina com os charutos que fumava).
Por isso, é com toda a certeza que digo que se Gary for nomeado para Melhor Ator nos Óscares com este papel e, principalmente se ganhar, será mais do que merecido. Podia continuar aqui a largar elogios, mas é preferível que se dirijam ao cinema e vejam por vocês próprios.
Sem dúvida que o filme está uma masterpiece no que toca a representar esta fase da política britânica e é daqueles casos em que todo o trabalho que está por trás se complementa na perfeição: de Joe Wright na realização, Dario Marianelli na banda sonora, Bruno Delbonnel na cinematografia, todo o departamento de maquilhagem e ainda Kristin Scott Thomas (Clemmie), Lily James (Elizabeth Layton), Ben Mendelsohn (Rei George IV), entre outros actores.