Foram cinco anos e meio de preparação até que a mais recente biopic de Bob Dylan chegasse aos grandes ecrãs e conquistasse oito nomeações aos Óscares.
É inegável que o nome Bob Dylan é reconhecido tanto entre os fãs da sua música como entre aqueles que nunca o devem ter ouvido. Se há algo indiscutível, é o impacto que teve no último século, com canções que se tornaram autênticos hinos dos direitos civis e muito mais. O seu talento é tão marcante que o levou a ser o primeiro músico a receber o Prémio Nobel da Literatura em 2016.
Agora, em The Complete Unknown, coube a Timothée Chalamet a missão de captar a essência do icónico músico para o grande ecrã. E, na minha opinião, fê-lo de forma exímia. Desde a reprodução dos característicos “grunhidos” de Dylan até à dedicação de aprender guitarra e harmónica, Chalamet não deixou nada ao acaso. Interpretou ao vivo mais de 40 músicas durante as filmagens, um trabalho para o qual se preparou ao longo de cinco anos, entre outros projetos, e que recebeu a aprovação do próprio Bob Dylan.
A sua entrega é evidente, e isso reflete-se na autenticidade da sua interpretação. Se já é uma enorme responsabilidade dar vida a uma figura histórica, ainda maior é fazê-lo com alguém que está vivo e que pode ou não aprovar o resultado final. Mas o esforço valeu-lhe uma merecida nomeação para Melhor Ator Principal.

Ao seu lado, Monica Barbaro brilha na pele de Joan Baez. Além de revelar uma voz surpreendente (que, pelos vistos, andava bem escondida!), prova que, por vezes, menos é mais. A sua presença no filme é, na maioria das vezes, ao lado de Chalamet, uma vez que as vidas de Baez e Dylan se cruzaram tanto a nível pessoal como profissional. Por isso, era essencial que houvesse química entre ambos, mas também que cada um conseguisse brilhar individualmente, mesmo nas cenas conjuntas. A nomeação para Melhor Atriz Secundária foi merecida, embora tenha surpreendido muitos.
No início da sua carreira, Dylan teve ao seu lado um nome de peso da música folk: Pete Seeger. Foi ele quem reconheceu o talento daquele jovem, ajudando-o a conquistar notoriedade e apoiando-o mesmo nos momentos de maior tensão na relação entre ambos. Edward Norton dá vida a Seeger num registo que foge aos papéis em que estamos habituados a vê-lo nos últimos anos. Foi uma lufada de ar fresco assistir a esta interpretação, e a nomeação para Melhor Ator Secundário, depois da última ter sido com Birdman, foi mais do que merecida.

Para nos mostrar um lado mais íntimo de Dylan, Elle Fanning interpreta Sylvie Russo, uma personagem inspirada numa antiga namorada do músico no início da sua carreira. Através dela, conhecemos um Dylan mais emocional – e, atrevo-me a dizer, mais humano.
Embora o filme cubra uma parte significativa da vida de Bob Dylan, especialmente a sua transição do folk para um som completamente diferente, há um momento em que a narrativa sofre um corte abrupto. A mudança é tão repentina que ficamos sem compreender totalmente algumas das suas reações e decisões. São opções narrativas intencionais de James Mangold, mas que, para mim, criaram alguma desconexão com o filme, embora reconheça a história que é contada através do repertório do músico.
A nível de realização, o filme não me impressionou nem me desiludiu, o que acabou por ser uma surpresa, já que Mangold conquistou-me com outros filmes como Logan e Ford v Ferrari. No entanto, no geral, The Complete Unknown é um filme que vale a pena, seja para quem quer conhecer um pouco mais sobre Bob Dylan, seja para os fãs que já o seguem há décadas.
Só não sei bem se, depois de o ver, fiquei com ainda mais vontade de ouvir Bob Dylan… ou se preciso de mais cinco anos antes de voltar a ouvir uma música dele!