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Citizen Kane, Mank e a magia do cinema

by João Pedro

“Mank”, de David Fincher, esteve nomeado a 10 Óscares da Academia. O filme incide na história conturbada de Herman J. Mankiewicz (Gary Oldman), o argumentista que, na década de 1940, trabalhou com Orson Welles em “Citizen Kane”. É totalmente possível apreciar “Mank” sem ver “Citizen Kane”, tal como, por exemplo, é exequível assistir a “The Disaster Artist “ sem conhecer “The Room”. No entanto, a meu ver, para aproveitar o filme de Fincher em toda a sua plenitude, vale a pena mergulhar primeiro na longa-metragem de Welles.

Este artigo contém spoilers de “Citizen Kane” e “Mank”

Mank”, o novo filme de David Fincher”, conta a história de Herman Mankiewicz, o argumentista que trabalhou com Orson Wells em “Citizen Kane”. Como seria de esperar, a obra apresenta algumas divergências com a história real. Filmado a preto e branco, com muitos dos estilos estéticos e estruturais do filme de Welles,” Mank” homenageia a Hollywood dos anos 1930, enquanto reflete sobre o próprio clima político dos dias de hoje. Um drama eficaz, com várias performances excelentes, e que toma algumas liberdades criativas com os eventos da vida real em que se baseia.

As primeiras décadas de Hollywood não são propriamente uma fonte rara de histórias modernas. O glamour mítico da indústria cinematográfica da primeira metade do século XX, continua a ser uma inspiração para múltiplas obras, cada uma com o seu próprio equilíbrio entre realidade e ficção. “Hail, Caesar!”, de 2016 e “Hollywood” (que também foi um original que a Netflix lançou em 2020) são apenas alguns exemplos recentes desta “obsessão”.

Embora “Mank” possa concentrar-se na política mais ampla da Califórnia, e nas especificidades de “Citizen Kane”, entrega-se moderadamente a homenagens estilizadas do período. Obviamente, muito desta indulgência é para benefício do filme, mas isso não significa que todas as histórias que “Mank” conta são verdadeiras.

No filme de Fincher, Herman necessita dos cuidados de uma enfermeira na altura em que escreve “Citizen Kane”. Em “Mank”, a cena mais significativa da enfermeira (judia, por sinal), de seu nome Fräulein Frieda, é quando Rita (assistente de Herman) questiona a sua lealdade perante um homem que frequentemente é irreverente, exigente e desrespeitoso. Perante a afronta, Fräulein Frieda afirma-se leal a Mank devido ao facto deste a ter ajudado (bem como todo o povo da sua aldeia- constituída por mais de cem judeus) a fugir para a América, com o intuito de escapar ao regime de Hitler.

MANK (2020)
Lily Collins as Rita Alexander and Gary Oldman as Herman Mankiewicz.
NETFLIX

A maior parte deste relato é verdadeira, embora alguns detalhes tenham sido alterados para criar um fluxo narrativo mais conciso. Mank tinha uma enfermeira, mas Fräulein Frieda é uma personagem fictícia, mais inspirada do que baseada numa pessoa real. E embora Mank não tenha auxiliado uma aldeia inteira, patrocinou muitos refugiados que fugiam da Alemanha nazi, incluindo muitos judeus que escaparam do que viria a ser o Holocausto.

Segundo Richard Meryman, autor da biografia “Mank: The Wit, World and Life of Herman Mankiewicz”, o verdadeiro Herman Mankiewicz patrocinou bastantes refugiados, tornando-se financeiramente responsável por eles. O verdadeiro Mank era abertamente contra o regime de Hitler, ao ponto de ter escrito um argumento chamado “The Mad Dog of Europe” que, de forma explícita, mostrou e condenou a ascensão do ditador. Esse argumento é mencionado brevemente no filme, assim como o facto de nenhum estúdio ter tido coragem de o produzir por medo de perder força no mercado alemão.

“Mank” centra-se bastante nas opções políticas dos realizadores daquela época. Este elemento surge principalmente por meio da campanha de Upton Sinclair para o cargo de governador da Califórnia, que compreende uma grande parte das cenas em flashback, e que inclui uma breve participação de Bill Nye na pele do próprio Sinclair.

O filme retrata uma elite de Hollywood que apoia quase de forma unânime o Partido Republicano, e que, desta feita, fica feliz em recorrer à propaganda xenófoba do medo para manter o seu status quo.

Esta imagem da política de Hollywood mantém-se fiel à história real, tal como os anúncios de ataque patrocinados pela MGM contra Sinclair, disfarçados de reportagens neutras. Nesse caso, a maior parte dos diálogos exaltados em “Mank” são extraídos diretamente das “entrevistas” espelhadas nos anúncios, que contavam somente com atores pagos.

Todavia, alguns detalhes da história não se sustentam. Para começar, não existem provas de que Herman Mankiewicz tenha inspirado os “cinejornais” falsos, por meio de algum deslize inteligente, como acontece no filme. Além disso, o personagem de Shelly Metcalf, o realizador que tem culpas no cartório pelos anúncios e que, por conseguinte, comete suicídio, é totalmente feito para o filme. Metcalf é vagamente inspirado no realizador Felix E Feist, embora o seu enredo dramático em “Mank” tenha pouco a ver com a vida real de Feist.

Efetivamente, Feist foi um realizador que pretendeu singrar na MGM. Mas as semelhanças ficam por aí. Ao contrário do seu homólogo terminal, o plano de ascensão de Feist funcionou bastante bem, ao passar das curtas para as longas-metragens, numa carreira que se estendeu até aos anos 1950. Cimentou uma marca respeitável na indústria por conta própria e, em 1965, faleceu de causas naturais (algo totalmente inverso ao suicídio, tal como ao diagnóstico de Parkinson, de Shelly).

Por outro lado, “Mank” incide também na autoria e no crédito criativo de “Citizen Kane”, algo que tem sido debatido por historiadores e estudiosos do cinema há décadas.

O filme exalta o conflito entre Welles e Mankiewicz, com a demanda deste último para ver o seu nome espelhado nos créditos da obra. Mankiewicz levou a discussão ao Sindicato de Argumentistas (Writers Guild of Americ), e conseguiu que o seu nome surgisse ao lado de Welles quanto à autoria do argumento. Em “Mank”, a cena de confronto é adicionada para um efeito dramático, todavia, a luta de Mankiewicz pela inclusão do seu nome nos créditos de “Citizen Kane”, e o subsequentemente ajuste, espelham a realidade.

Curiosamente, no início do processo de escrita de “Citizen Kane”, Herman renunciou a qualquer crédito relacionado com o argumento do filme. E esta decisão até não é muito surpreendente: Mank era conhecido por ter escrito ou ajudado a escrever dezenas de argumentos sem receber créditos pelo seu trabalho. Geralmente, era solicitado para consertar ou retocar argumentos com algum do seu humor característico.

© 2020 NETFLIX, INC.

Naquela altura, ele estava afastado dos grandes estúdios e, desta feita, já se considerava bastante feliz por conseguir arranjar trabalho. Desta forma, com a RKO Radio Pictures a depositar todas as esperanças em Welles, o nome de Mankiewicz não estaria no filme.

Contudo, Mank muda de ideias. A dada altura, não importava o que Welles pudesse oferecer ou fazer. O que transparece, e o que o próprio Mankiewicz finalmente aceita, é que o argumento de “Citizen Kane” é uma obra de brilho: a melhor coisa que ele já escreveu.

Nessa altura da sua vida, Mank tinha problemas com o álcool e, acima de tudo, queria desistir de tudo.  Os sonhos de um dia vir a escrever o argumento (quanto mais receber créditos) de um filme com tamanha envergadura, tinham praticamente desaparecido. Por conseguinte, produzir algo com bastante qualidade, valia muito mais do que qualquer coisa que Welles e a RKO pudessem ter para oferecer a um homem que, ano após anos, só conseguia sentir-se inútil.

Depois de apresentar a reclamação ao Screen Writers Guild, a RKO acabou por reverter a situação, e incluir Herman Mankiewicz nos créditos de “Citizen Kane”. Adicionalmente, mais importante do que isso, o seu nome foi colocado antes do de Orson Welles nos créditos do argumento, o que foi aparentemente feito a pedido do próprio realizador.

Nos Óscares, o filme foi nomeado para um total de nove categorias, mas arrecadou apenas um prémio. Apesar de todo o génio individual de Welles, a estatueta que arrecadou foi a que partilhou com Mank (embora Welles tenha sido uma vítima da política da Academia). Curiosamente, nenhum deles marcou presença na cerimónia para receber a estatueta.

Em “Mank”, surge uma gravação de Welles, que estava a trabalhar em “All Is True”, no Rio de Janeiro. A nota serviu também para deixar uma mensagem ao colega argumentista: “Mank, you can kiss my half”.

Em contraste com a observação muito breve de Welles, que se traduziu numa nota um pouco maior do que apenas o comentário em específico, Herman fez um discurso mais longo (e igualmente polémico): “I am very happy to accept this award in the manner in which the screenplay was written, which is to say, in the absence of Orson Welles. How’s that?”

Quando questionado sobre o facto de Welles ter partilhado os créditos pelo argumento, Mankiewicz respondeu: “Well that, my friend, is the magic of the movies”.

Esta resposta pode reacender um dos debates mais antigos de Hollywood: quem é que merece realmente o crédito pelo argumento de “Citizen Kane”? O próprio “Mank” foi escrito por Jack Fincher, pai de David, baseado principalmente no trabalho de Pauline Kael, que acreditava que Mankiewicz era o único autor do filme. O final de “Mank” pode ser visto como um suporte a essa teoria.

© 2020 NETFLIX, INC.

No entanto, isso não encaixa totalmente na produção de “Mank”, nem no que o filme traduz. David Fincher e Eric Roth poliram o argumento para o tornar um pouco mais simpático para Welles, um realizador presente no corpo de toda a obra de Fincher – principalmente em “The Social Network”.

As evidências históricas, tal como “Mank”, sugerem que Welles ajudou a contribuir para a história de “Citizen Kane”, mesmo que as palavras tenham sido escritas por Mankiewicz, uma vez que ele trabalhou na ideia e nas múltiplas revisões durante a produção. E, nesse sentido, o discurso de Mank é menos sobre o crédito e mais sobre o significado de ter escrito o argumento.

A frase “magia do cinema”, por outro lado, parece um pouco mais cínica. Embora seja uma peça clássica da sagacidade de Mank – algo que é historicamente conhecido e claramente mostrado ao longo do filme – também exalta o verdadeiro significado em torno dessa “magia” que, por vezes, prega rasteiras.

É a visão desaprovadora de Mankiewicz – e de Fincher – acerca do sistema dos estúdios, da burocracia e política envolvidas na produção de um filme. Foi a “magia” que levou Mankiewicz a escrever “Citizen Kane”, Welles a dividir os créditos do argumento, e, por fim,  foi a “magia” que fez com que um dos maiores filmes de todos os tempos fosse quase ignorado pela Academia.

O final de “Mank” é relativamente pessimista em termos da história de vida de Herman. Mankiewicz nunca mais escreveu um argumento e não conseguiu escapar ao vício do álcool, que teve por grande parte da sua vida, e que, por conseguinte, contribuiu para que falecesse aos 55 anos de idade.

Em contraste, Orson Welles continuou a traçar a sua carreira. Acabou por ser considerado um dos maiores cineastas de todos os tempos, porém, não teve uma vida propriamente acessível. O filme que estava a conceber na parte final de “Mank”, isto é, “It’s All True”, foi um dos vários filmes que produziu antes de partir para a Europa, no final dos anos 1940, onde passaria grande parte da sua carreira – bem longe de Hollywood. Welles trabalhou até à sua morte, em 1985, durante a produção de “The Other Side of the Wind”, que foi lançado pela Netflix em 2018.

Um outro personagem que aparece em “Mank”, mas que teve muito mais sucesso posterior, foi Joseph, o irmão mais novo de Mankiewicz. Em 1950, recebeu dois Óscares nas categorias de Melhor Realização e Melhor Argumento Adaptado com “A Letter To Three Wives”. No ano seguinte, voltaria a arrecadar prémios nas mesmas categorias com “All About Eve”.

Já William Randolph Hearst, a inspiração não tão secreta para “Citizen Kane”, ficou indignado com a obra de Welles.

Em “Citizen Kane”, Charles Foster Kane (interpretado pelo próprio Welles) nasce no seio de uma família humilde. Mary, a mãe de Charles, administra uma pensão e acumula uma fortuna depois de obter a escritura de uma mina de ouro. Posteriormente, nomeia o banqueiro Walter P. Thatcher para assumir a função de responsável legal do rapaz, na esperança de que essa solução fosse a mais viável para que o filho ficasse preparado para administrar a fortuna quando completasse 25 anos.

Hearst, por outro lado, nasceu em San Francisco. Era filho de George Hearst, o proprietário de uma mina e senador da Califórnia. A mãe, Phoebe, apoiava o movimento sufragista. Hearst teve uma educação privilegiada e frequentou a Universidade de Harvard, da qual foi expulso. Em 1919, numa altura em que os pais já tinham falecido, Hearst recebeu a sua herança.

No filme, Kane compra o New York Daily Inquirer, um jornal, por capricho. Porém, a incursão de Hearst no jornalismo começou em 1887, quando assumiu o cargo de gerente do San Francisco Examiner (ele adquiriu o jornal como pagamento por uma dívida ao jogo). Hearst foi uma figura proeminente na ascensão do chamado “yellow journalism”, que se baseava mais em manchetes espalhafatosas e sensacionalistas do que em reportagens objetivas e baseadas em factos. Este tipo de jornalismo lançou as bases para os tablóides modernos.

Hearst expandiu o seu negócio para jornais diários em todo o país, sindicatos de notícias, rádio, filmes, revistas e publicação de livros. No filme, Kane vende o seu império nos media a Thatcher, devido a perdas financeiras atribuídas à Grande Depressão. As cruzadas políticas, os gastos excessivos e a má gestão financeira de Hearst, levaram à dissolução de grande parte da sua fortuna, mas manteve um papel ativo como chefe editorial dos seus jornais.

Em “Citizen Kane”,  Kane concorre para o cargo de Governador de Nova Iorque contra Jim Gettys, mas as esperanças caem por terra devido ao seu envolvimento extraconjugal com Susan Alexander. O escândalo marcou o fim das suas aspirações políticas.

Por outro lado, as tentativas de Hearst para assegurar um cargo eletivo foram mais ambiciosas e duradouras. Serviu como membro da Câmara dos Representantes dos EUA de 1903 a 1907. Para além disso, concorreu ao cargo de Presidente da Câmara e Governador de Nova Iorque, o Senado dos EUA, e tentou garantir a nomeação democrata para presidente em 1904, mas perdeu para Alton B. Parker. No início, tal como Kane, Hearst era de esquerda, e prometia ser um campeão da classe trabalhadora, mas depois abandonou o Partido Democrata e tornou-se mais conservador.

MANK (2020)
Amanda Seyfried as Marion Davies, Gary Oldman as Herman Mankiewicz and Jamie McShane as Shelly Metcalf.
Cr: NETFLIX

Ao contrário de Charles Kane, Hearst não se casou com a sobrinha de um presidente. A sua esposa, Millicent Wilson, era uma showgirl. Casaram-se em 1903, tiveram cinco filhos e, embora Hearst tenha tido um caso de longa data com Marion Davies, o casamento durou até ao fim da sua vida.

No filme, Kane casa-se com Susan Alexander, uma aspirante a cantora de ópera, e constrói-lhe uma espécie de casa de espetáculos para lhe dar espaço e oportunidade de mostrar os seus talentos medíocres. Após a candidatura fracassada para Governador de Nova Iorque, Kane emprega tempo e recursos para tentar fazer com que a esposa atingisse o sucesso. Na sua ótica, era preferível gastar dinheiro do que concluir que o fracasso da esposa poderia ter um impacto negativo sobre ele.

A dada altura, Susan tenta cometer suicídio, e, desta forma, Kane decide ir viver com ela para um palácio chamado Xanadu. A partir daí, obriga-a a viver em reclusão enquanto decide afastar-se dos olhos do público. A sua queda é atribuída à crueldade, arrogância, egoísmo e ao abandono do idealismo que o moldou como dono e senhor de um império influente.

Voltando a Hearst, embora a festa do circo (que o público vê em “Mank”) seja pródiga, ele enfrentava a ruína financeira após uma série de investimentos totalmente fracassados em longas-metragens. Ele perdeu dinheiro ao ponto de ter de aceitar um empréstimo de Marion Davies. Hearst ficou constrangido publicamente, mas conseguiu voltar com os seus jornais e anúncios durante a Segunda Guerra Mundial. Ainda detentor de alguma influência, proibiu os jornais de mencionar “Citizen Kane”, e até processou Welles por difamação, ao mesmo tempo que impediu várias salas de cinema de exibir a obra. Hearst faleceu em 1951 aos 88 anos.

Não obstante, Davies ainda foi mais prejudicada do que Hearst por causa de “Citizen Kane”. A perceção que o público teve na altura, era que a personagem de Susan Alexander tinha sido baseada nesta mulher (uma ideia contra a qual o próprio “Mank” luta, ao exaltar a opinião que Mankiewicz tinha dela), e foi algo que ela não conseguiu abafar.

A sua carreira de atriz já tinha acabado quando o filme saiu, sendo que o legado que deixou não foi propriamente brilhante. Naquela época, o mito em torno do facto de Davies não ser uma atriz talentosa, persistiu, embora os críticos – e o próprio Welles – tenham tentado redefinir o seu legado nos anos seguintes.

Quanto a Mankiewicz, era uma figura repleta de problemas, mas “Citizen Kane” entregou-lhe uma sensação de poder renovado e uma vitória final em Hollywood. Ele podia não ser o tal tocador de realejo, mas pelo menos certificou-se de frisar a importância do macaco.

Num sentido mais amplo, é tentador ver “Mank” como uma homenagem à velha Hollywood. Não deixa de ser verdade. Fincher elaborou um trabalho meticuloso, cheio de pormenores sublimes, e, a meu ver, conseguiu que o filme assumisse a sua função de máquina do tempo – em modo nostálgico. No entanto, também existe o reverso da medalha.

Fincher também consegue expor o seu cinismo, e se calhar até desprezo, pelos grandes estúdios e pelas pessoas que são responsáveis ​​por dar luz verde aos filmes, mas que têm pouca paixão por eles. “Mank” exalta que David Fincher adora o conceito em torno de longa-metragem, mas que, em todo o caso, não morre de amores por Hollywood.

Seja como for, e tal como Mank tão bem frisou…Isto, meus amigos, é a magia do cinema.

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