Hayao Miyazaki é um ícone do cinema de animação. O cineasta, que anunciou a reforma em 2013, decidiu voltar atrás na decisão e, por conseguinte, existe uma nova longa-metragem que pode ficar pronta em 2021. Por agora, em jeito de homenagem ao seu octogésimo aniversário, recordo alguns dos meus trabalhos prediletos de Miyazaki.
- “Howl’s Moving Castle”
Adaptado do romance com o mesmo nome, “Howl’s Moving Castle” é, abertamente, o filme mais anti-guerra de Miyazaki. Tendo como pano de fundo uma guerra inútil travada por intermédio de magia e tecnologia do século XX, uma jovem modista é amaldiçoada por uma bruxa e acaba transformada numa idosa.
Desta feita, a jovem parte para o campo em busca de uma cura, onde encontra um castelo e o seu dono, um feiticeiro problemático chamado Howl. A mistura de personagens charmosas e a animação cativante é o clássico Ghibli, mas, para mim “Howl’s Moving Castle” está entre os filmes mais sombrios (mas, ao mesmo tempo, espetaculares) de Miyazaki, especialmente nas imagens da faixa de aviões a largar bombas sobre civis inocentes.
“Howl’s Moving Castle”: Fábula sobre a natureza do amor
- “Laputa: Castle in the Sky”
“Laputa: Castle in the Sky” expõe as grandes preocupações de Miyazaki com algum estilo enquanto Pazu, um jovem mineiro, e Sheeta, uma rapariga que cai do céu, partem em busca de um castelo atrás das nuvens.
Com influências tão variadas como os mineiros galeses e as viagens de Gulliver, este filme tem vilões inusitadamente diretos no coronel Muska e os militares, mas também conta uma história sobre robôs antigos, cristais mágicos e aeronaves steampunk, que exploram temas de indústria, ganância, coragem e sacrifício.
A animação é diferente do estilo de “Spirited Away”, mas as ideias, a banda sonora expressiva de Joe Hisaishi e, mais importante, a atmosfera de Miyazaki, estão presentes da mesma forma. É a primeira grande obra-prima de Ghibli.
- “Spirited Away”
Este foi o filme que deu nome ao Studio Ghibli fora do Japão. “Spirited Away” é uma história surpreendente e encantadora de uma jovem que passa para outro mundo cheio de deuses, monstros e magia.
A animação desenhada à mão é notável, ao transformar mundos fantásticos numa série de obras de arte intrincadas e divertidas.
Esta é uma história sobre as maravilhas do mundo natural e os monstros fantásticos que o habitam. Mas também é sobre coragem e acerca do conceito de “pertencer”. Indubitavelmente, consegue ter um impacto profundo em vários tipos de espetadores.
- “Princess Mononoke”
Miyazaki tem o talento de fazer com que histórias épicas pareçam singelas e pessoais, e o exemplo mais fulcral deste facto reside em “Princesa Mononoke”.
Ambientado numa versão do Japão do século XIII, o filme retrata a luta entre os deuses animais, que protegem a floresta, e os humanos que querem causar destruição para extrair ferro. Entre eles, está Ashitaka, um príncipe de uma tribo que está amaldiçoado para morrer, e cujas tentativas de reconciliar os adversários acabam por ser em vão.
É um filme repleto de ação, e destaca-se realmente pelos tons mais cinzentos. O equilíbrio entre humanos, tecnologia e natureza é um dos temas favoritos de Miyazaki e “Princess Mononoke” é o retrato mais evocativo destas suas convicções.
- “My Neighbour Totoro”
Num esforço tipicamente errático por parte de Miyazaki, “My Neighbour Totoro” conta a histórias de duas raparigas e do seu pai, que se mudam para uma casa velha perto do hospital onde a mãe recupera de uma doença de longo prazo.
Por conseguinte, as raparigas fazem amizade com os espíritos de uma floresta das redondezas, incluindo Totoros de vários tamanhos e um gato gigante. O ênfase entregue a criaturas excêntricas, compensa a atmosfera perpetuamente calma do filme.
Este é um filme que retrata na perfeição o conceito em torno do que é ser criança, Para mim, não é só um dos pontos altos de Miyazaki, mas uma das obras cinematográficas mais bonitas de sempre.
- “Kiki’s Delivery Service”
Esta é uma história vertiginosa e enérgica sobre Kiki, uma jovem feiticeira, Jiji, o seu gato sarcástico, e as aventuras que partilham num mundo rico em imaginação. O filme aborda o amadurecimento, e, por conseguinte, os temas subjacentes desmentem a aparência mais infantil.
Kiki é um modelo inspirador, e não apenas para o público mais jovem. A personagem faz com que façamos a reflexão sobre o facto de, a dada altura, termos de tomar as rédeas da nossa vida.
O final abrupto faz com que fiquemos a pedir mais, mas, ao fim e ao cabo, se pensarmos bem, o desenlace sucede exatamente no momento certo.