12 Angry Men é uma dissertação da figura masculina americana dos anos 50, movida a diálogo e firme no retrato do humano e da sua pequenez, repleta de falhas que ainda nos assombram passados 60 anos.
O que o filme atinge com isto é algo que a maioria falha em fazer, apesar das produções de budgets generosos: demonstra com tamanha beleza tudo o que pode acontecer quando um guião imaculado, um realizador talentoso e um elenco empenhado se juntam debaixo do mesmo tecto e trabalham em gloriosa harmonia, pois 12 Angry Men é uma das grandes façanhas do cinema.
Para mim, a sua mais genial qualidade é a sua simplicidade. 99% do filme decorre num único local enquanto 12 jurados debatem a culpabilidade de um jovem, suspeito de matar o seu pai. A premissa é montada relativamente depressa e assim que a discussão ganha tracção o filme torna-se em cinema provocador, absorvente e de pulso firme na atenção do público, largando apenas no final.
A cereja no topo do bolo será o que 12 Angry Men tem a dizer. É entregue uma perspetiva interessante do sistema de justiça americano, e são colocadas questões morais fortíssimas. Como é que se decide o destino da vida de alguém? Em que é que baseamos essa decisão? E se estivermos errados? Tudo isto é essencialmente sobre manipulação. Ficamos inclinados para torcer pela personagem de Fonda, pois é o que apresenta o veredito contrário ao de todos. Ele está determinado em apresentar o seu lado, e debater tudo.
O que acontece, na verdade, é que se planta a semente da dúvida nos outros jurados. Lentamente, todos mudam de opinião e ficam do seu lado, maioritariamente pela sua eloquência. Os jurados estão divididos, e a cada mudança de voto vemos o triunfo arder nos olhos de Fonda. Torna-se quase fanático como a personagem de Cobb, que nos foi claramente apresentado como o exato oposto na bússola moral. O que tudo isto me deixou foi: e se Fonda não estivesse certo? O filme não nos responde. O que nos mostra, na verdade, é que no processo de tomar decisões, as pessoas irão muitas vezes agir de interesse próprio, além de procurar por alguém que lhes diga o que fazer, um líder.
Decisões tomadas, mãos limpas.
Numa escala geral, 12 Angry Men começa a celebrada carreira de Sidney Lumet numa nota altíssima, e é possivelmente a melhor estreia na direção que o cinema já viu. Original em conteúdo, realizado em todos os parâmetros e repleto de reviravoltas, é facilmente um dos maiores dramas de tribunal de todos os tempos, e mantém-se de pé como um dos mais interessantes e emocionalmente recompensadores da história. Graças ao seu apelo universal e história intemporal, sobreviveu com grandeza durante quase seis décadas e está destinado a muito mais. Outras obras-primas não serão mais simples que o magnum opus de Lumet.