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007: O nome dele é Craig, Daniel Craig

by João Pedro

James Bond foi revitalizado para a era moderna, em parte graças à abordagem mais áspera de Daniel Craig, mas as maiores dificuldades da franquia incidem na própria história do personagem. O smoking assenta que nem uma luva ao ator, que, com “No Time To Die”, termina a sua prestação como espião mais famoso do mundo. 

As atenções começam a virar-se para o futuro. Quem será o próximo a interpretar James Bond? Mistério. Por agora, é relevante analisar o legado de Craig. 

O ator introduziu uma versão refinada do agente secreto nos estágios iniciais da sua carreira em “Casino Royale”. Este 007 provou ser popular e ajudou a reviver a saga após o problemático “Die Another Day”, o último filme com Pierce Brosnan. Não obstante, tem sido um caminho irregular desde “Royale”, com “Quantum of Solace” a falhar na tentativa de impressionar fãs e críticos, seguido por “Skyfall”, que muitos consideram um regresso à boa forma. Por fim, em 2015, surgiu “Spectre”, outro passo em falso.

Agora, Craig espera sair em grande com “No Time To Die”. E embora haja uma expectativa alta em redor do filme, existe também o potencial de surgir um problema que tem atrapalhado os filmes modernos em torno de 007. 

Após a má recepção de “Quantum of Solace”, a franquia começou a utilizar velhos truques do passado. Infelizmente, trazer elementos historicamente populares de 007 provou ser uma das maiores lutas dos filmes modernos de Bond – uma saga que, com “Casino Royale”, começou a fazer exatamente o oposto.

Indubitavelmente, os filmes recentes lutaram para reconciliar a versão de 007 de Craig com a história da franquia.

Desde que a abordagem de Craig começou, tem havido um problema contínuo de direitos nos bastidores que resultou numa retração dentro dos próprios filmes. As longas-metragens com Craig são uma lufada de ar fresco. Este 007 tem um arco de história coeso e entrega uma narrativa contínua que o vê caçar as pessoas responsáveis pelas suas várias aventuras desde “Casino Royale”. 

Em “Specter” de 2015, é revelado que Blofeld, de Christoph Waltz, a mente por trás de SPECTER, é “o autor de toda a dor [de Bond]”.

Antes dessa revelação, a Eon Productions – o estúdio associado aos filmes de 007- não tinha os direitos de utilização de SPECTRE ou do nome Blofeld. Ambos foram uma parte importante da saga ao longo da sua história, com vários atores a desempenhar o papel de Blofeld e SPECTRE por trás de muitas das tramas sinistras que Bond vivenciou ao longo dos anos. 

Não obstante, os direitos do nome foram perdidos pela Eon antes de Craig assumir o papel, e é por isso que, antes do lançamento de “Specter”, os filmes modernos de Bond estavam a criar uma organização nefasta, e em alternativa, com o nome ‘Quantum’. Evidentemente, a história foi alterada como uma divisão da SPECTRE assim que os produtores obtiveram os direitos do nome.

Infelizmente, ao invés de ser um triunfo para a Eon, a apresentação de SPECTRE na sequela pareceu mais uma inconveniência embaraçosa. Além da visão desanimadora de Waltz (que eu aprecio imenso) sobre o vilão clássico de Bond, toda o volte face em relação a Quantum, e a outros eventos dos filmes anteriores protagonizados por Craig, contribuiu simplesmente para uma atualização confusa do arco de história. 

Blofeld é o vilão mais preponderante de 007, e a versão de Waltz deveria ser o regresso triunfante de um pilar da saga, presumivelmente com a intenção de agradar os fãs, e efetuar a revelação de que o seu maior inimigo estava por trás de todos os problemas. 

Na verdade, parecia mais um anticlímax importante – uma tentativa de reviravolta que equivalia a pouco mais do que uma simples explicação: “o Blofeld é o culpado de tudo”. Talvez seja por isso que tantos fãs não tenham apreciado “Spectre”. 

Perante os resultados pouco convincentes de “Quantum of Solace”, a Eon decidiu descartar a ideia de ‘reinventar Bond’ na sua totalidade, e optou por recordar certos detalhes do passado. 

Desta forma, “Skyfall” apresentou uma série de novas (mas, na verdade, clássicas) adições à franquia. Considerando que o Bond de Craig já tinha sido estabelecido como uma pessoa solene e solitária, o personagem passava então a ser apoiado por um elenco de personagens no MI6, incluindo um novo ‘Q’ na forma de Ben Whishaw. 

Adicionalmente, a versão adorada de Judi Dench como “M” foi morta. Mais uma vez, foi uma tentativa de reinventar Bond e fazer algo genuinamente progressivo. Dench foi substituída pela contraparte masculina na forma de Mallory de Ralph Fiennes, que chegou apoiado pela sua assistente, Moneypenny (Naomie Harris).

É certo que a versão moderna de Moneypenny é uma tentativa de atualizar a personagem clássica para o público dos anos 2010. E Ralph Fiennes desempenha um sólido M. Mas o final da versão de Judi Dench do chefe do MI6 parece ter surgido não como uma forma necessária de desenvolver o arco da história de Craig, mas mais como uma forma dos produtores forjarem ligações com os filmes antigos de 007. 

A forma como “Skyfall” termina, com o clássico M, bem como Moneypenny adjacente ao escritório restaurado, é uma peça particularmente notável do passado. O Bond de Craig, outrora rebelde em “Casino Royale”, fica preso numa cápsula do tempo no momento em que o filme acaba. 

Fazer com que Bond passe, lentamente, de uma interpretação robusta do personagem para uma imitação do passado de 007, é uma decisão genuinamente desconcertante por parte dos produtores. 

Considerando que “Casino Royale” provou que reinventar Bond poderia não só funcionar bem, como também revelar-se muito bem-sucedido, é realmente um verdadeiro mistério que os produtores tenham optado por não tentar imitar o sucesso da reinvenção de “Royale” e, em vez disso, apostarem exatamente no oposto, ao jogar marcas históricas de Bond nas sequelas. 

“Skyfall” marcou o filme do quinquagésimo aniversário de 007, o que explica alguns dos elementos de nostalgia, e que, para mim, foram bem utilizados na ocasião, no entanto, “Spectre” pecou por ficar refém dessa homenagem. 

“No Time To Die”, o vigésimo quinto filme do canon oficial de James Bond, vai apresentar rostos familiares, como Blofeld de Christoph Walt e Madeleine Swann de Léa Seydoux, bem como algumas novidades, nomeadamente Nomi de Lashana Lynch e, a novidade de peso, Safin de Rami Malek.

Embora os maiores detalhes o enredo permaneçam em segredo, é certo que “No Time To Die” foi concebido como uma conclusão definitiva para o arco de James Bond de Daniel Craig. 

Aparentemente, 007 está reformado quando a história começa, e Nomi, a nova recruta, substituiu-o no MI6. Bond enfrenta o clássico dilema sobre a possibilidade de viver a reforma feliz, ao mesmo tempo que permanece atormentado pelos fantasmas do passado. 

As eras anteriores de Bond desfrutaram de elementos de continuidade – a construção gradual em direção à revelação de Blofeld, por exemplo – mas os filmes de Daniel Craig estão mais conectados do que nunca na história do personagem. 

“No Time to Die” vai lançar as últimas cartas de Craig que, a meu ver, revolucionou o personagem de forma surpreendente. 

“Casino Royale” permaneceu fiel ao romance de Ian Fleming, ao retratar Bond como um lobo solitário a adaptar-se ao status “00”. É um Bond robusto que desrespeita as regras, em vez de seguir a mudança social do mundo real. 

Nos anos 2000, quando “Royale” e “Quantum of Solace” chegaram aos cinemas, Bond tinha uma concorrência sólida com a franquia Jason Bourne. 

As histórias de ação do assassino internacional de Matt Damon apresentavam um nível de violência que os filmes de Craig tinham que igualar. Assim, James Bond tornou-se mais apto, mais cruel e um lutador muito melhor à medida que os filmes se tornaram relativamente mais fundamentados em comparação com os filmes protagonizados por Roger Moore e Pierce Brosnan. 

Além disso, as personagens femininas da era de Craig são mais inteligentes e complexas. Eve Moneypenny, a trágica Vesper Lynd de Eva Green e a Dra. Madeleine Swann de Lea Seydoux estão entre as melhores Bond Girls de todos os tempos. 

O 007 de Craig explorou a humanidade de James Bond, as suas falhas, e os filmes permitiram que ele crescesse e mudasse. Antes de Daniel Craig, foram vários os atores que vestiram os smokings, mas o próprio agente secreto não mudava e era sempre presunçosamente indomável. 

A versão de Craig evoluiu com o tempo, apaixonou-se, experimentou desgostos, traições e aprendeu verdades incómodas sobre o passado e as suas origens. 

Em Skyfall, o vilão Silva (Javier Bardem) apresentou-se à M com a ameaça: “Think on your sins”. Esta deve ser a verdade universal para os produtores de James Bond. Enquanto os pecados passados dos filmes de James Bond não se repetirem, e a saga continuar a inovar, enquanto apresenta 007 como um personagem em que o público pode acreditar, julgo que o futuro destes filmes vai permanecer brilhante.

Hoje comemora-se o Global James Bond Day! Acompanha o podcast oficial com entrevistas aqui.

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